São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Cotação de amigo sobe com concorrência

PRISCILA LAMBERT
DA REPORTAGEM LOCAL

Sentimento de perda ou descoberta de um amor enrustido? Assim como a personagem interpretada por Julia Roberts no filme "O Casamento de Meu Melhor Amigo", em cartaz atualmente, muitas mulheres só percebem sua atração por um homem quando o perdem.
A partir daí, vale tudo: chorar, se declarar, fazer intrigas ou até conter a emoção e perder a parada.
A empresária Viviane Mendes, 38, decidiu engolir o orgulho e partir para a batalha.
Ela tinha um grande amigo havia mais de dez anos, que vivia expressando a ela seu desejo de ter algo mais que uma amizade. Viviane não o via senão como amigo. Mas a situação se inverteu quando o rapaz apareceu com outra mulher no bar. "Eu me senti traída e fui tomada por um ataque de ciúme."
Viviane começou a dizer ao amigo que a outra era feia, vulgar, e que ele deveria romper com ela.
A situação ficou insustentável quando o relacionamento de seu amigo estava se tornando um compromisso. "Resolvi abrir o jogo antes que fosse tarde. Disse que não conseguia vê-lo com ela e que eu precisava dele", diz.
Ele rompeu a relação com a outra mulher no mesmo dia, e hoje Viviane está casada com seu melhor amigo. "Sempre gostei dele, mas não admitia porque eu havia saído de um casamento doentio. Quando senti que ia perder, caí na real."
Não teve a mesma sorte a produtora de moda M.S., 34. Ela viveu um rápido romance com um colega de trabalho e rompeu por achar que não gostava dele o suficiente para levar um relacionamento.
Eles se tornaram bons amigos mas, quando ela descobriu que ele estava saindo com uma amiga sua, os sentimentos afloraram.
M. conta que enlouqueceu de raiva e tentou reconquistá-lo. "Mas ele disse que nosso momento havia passado. Fiquei extremamente deprimida."
Hoje, M. tem outra visão. "Não queria dividir o amigo com ninguém. Não o via como amante. Era um objeto de posse que, na hora do sufoco, tinha à mão."
Segundo Lidia Aratangy, psicoterapeuta e autora de livros como "O Amor tem Mil Caras", os sentimentos de perda e competição são componentes do amor.
"O amor é motivado por várias coisas, inclusive por situações de perda -tudo o que se perde passa a ser muito mais valioso -ou de competição, que é inevitável quando há outra mulher na história."
A analista de vendas S.E.B., 43, acredita que ainda é apaixonada por aquele que um dia pensou em ser mais do que seu amigo (veja depoimento ao lado).
Ao contrário de S., a stripper Malu Bailo está convencida de que seu acesso repentino de paixão por um ex-namorado foi motivado pela falta de controle da situação.
Malu se ralacionava com um rapaz havia quatro anos. "Brigamos e voltamos inúmeras vezes, e eu sempre tinha a certeza de que ele voltaria. Quando percebi que ele havia encontrado outra mulher, me assustei."
A stripper começou a fazer intrigas para destruir a relação. "Dizia a ela que nós continuávamos juntos e que ela não tinha chance."
Hoje Malu se diz amadurecida. "Foi um ato infantil como o de uma criança que perdeu seu pirulito. Mas eu não o amava."
Definindo-se como muito racional para assuntos do coração, a atriz Patrícia de Sabrit resolveu abrir mão de seu amor.
Ela namorou durante seis meses com um rapaz, mas só descobriu a dimensão de seus sentimentos quando o relacionamento foi rompido. "Não fui atrás, não me declarei, porque sei que hoje ele está feliz com outra pessoa. Quando assisti ao filme 'O Casamento de Meu Melhor Amigo', tive vontade de ligar para ele e dizer: assista ao filme e pense que a Julia Roberts sou eu. Mas desisti. A chance de me declarar havia passado."

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