São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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"Igreja tem que aceitar", afirma padre

RENATO KRAUSZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A Igreja Católica tem aceitado com maior tolerância as uniões consensuais, afirma o padre Fernando Altemeyer, 40, vigário de comunicação da Cúria Metropolitana de São Paulo.
"Não defendemos esse tipo de união, mas temos que compreender e aceitar. É um fato real que os jovens estão se juntando muito", diz Altemeyer.
"Eu já fiz vários casamentos no dia em que os noivos foram batizar o primeiro filho, procedimento que antes não era normal."
O padre Antônio Carlos Rossi Keller, 44, membro da Opus Dei, concorda. "A igreja tem que acolher da melhor forma possível todas as pessoas", afirma.
Os dois padres, no entanto, não poupam críticas às uniões consensuais: "Não podemos dizer aos jovens para fazer um teste e ver se dá certo. O teste é o namoro", declara Altemeyer.
"Sou favorável à família e ao sacramento do casamento. Os jovens de hoje não são educados para o amor", afirma Keller.
A Arquidiocese de São Paulo registrou no ano passado 12.069 casamentos nas 270 paróquias da capital. Em 86, foram 24.388. Em 77, 44.640.
O padre Altemeyer aponta como causas para a queda elementos sociais, econômicos e culturais.
"A emancipação feminina e a urbanização são dois fatores que influem muito. A mulher não precisa mais casar para se realizar. Ela pode ter uma vida sexual e profissional independente do matrimônio", afirma ele.
Quanto à urbanização, segundo Altemeyer, a oferta de moradias nas cidades é baixa, fazendo com que muitos jovens se juntem na casa dos pais e se casem só depois de conseguir uma residência própria.
A questão econômica, segundo o padre, é outro fator forte. "Existe toda uma máfia por trás do casamento que eleva o preço da cerimônia para R$ 2.000 ou R$ 3.000, dinheiro que é gasto com vestido, decoração, festa, vídeo etc."
Altemeyer reconhece, no entanto, que a burocracia da igreja pode servir de entrave para as pessoas se casarem no religioso.
Os noivos precisam fazer curso, pedir certidão de batismo e outros documentos.
"São regras que não podem mudar, pois são a forma jurídica do casamento católico. O que podemos fazer é agilizar com a informatização das paróquias", disse.
Por fim, os fatores culturais, para Altemeyer, são decisivos. "Estamos na virada do milênio e cada vez mais surgem novas visões de vida que não são cristãs."

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