São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Matrimônio está em baixa em todas as gerações

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1970, 12,2% dos adolescentes casados viviam em união consensual. Vinte e cinco anos depois, o percentual de homens e mulheres dessa mesma geração -atualmente com 40 a 44 anos de idade- que mora com outra pessoa sem ter uma certidão de casamento cresceu para 18,6%.
O fenômeno se repete em todas as demais faixas etárias. Isso prova que a deterioração do matrimônio como instituição não é um fenômeno apenas da chamada Geração X. O casamento formal está em baixa em todas as gerações, não importa o ano de nascimento.
O melhor exemplo é o das pessoas nascidas entre 1941 e 45. Em 1970, quando tinham entre 25 e 29 anos de idade, apenas 7,4% dos que já estavam casados não haviam formalizado a união via matrimônio civil e/ou religioso.
Em 1995, duas vezes mais pessoas dessa geração viviam em união consensual. Ou seja: 15% dos casados com 50 a 54 anos não formalizaram sua união no cartório nem na igreja.
Nesses 25 anos, ocorreram duas coisas com as pessoas da geração 1941/45:
1) Aqueles que casaram mais velhos acompanharam, com maior entusiasmo, a tendência dos novos tempos de só juntar os trapos.
2) Muitos dos que, depois de casados "de papel passado", se separaram e depois voltaram a casar preferiram evitar a burocracia dos cartórios no segundo casamento. No caso dos católicos, nem sequer havia a possibilidade de um segundo matrimônio religioso.
São várias as causas que ajudaram a transformar, tão rapidamente, o comportamento dos brasileiros em relação ao casamento. Os motivos são tão diversos como as migrações internas e a revolução sexual.
Os milhões de migrantes nordestinos que chegaram a São Paulo na década de 70 são vítimas típicas da burocracia na hora do casamento.
Para casar na igreja, os noivos devem tirar uma cópia atualizada de sua certidão de batismo na paróquia de origem.
É o mecanismo encontrado pela igreja católica para evitar a bigamia. Ao fazer a segunda via, o sacristão marca no livro de batismo que a cópia foi tirada tendo como finalidade o matrimônio. Uma terceira via é impraticável.
No caso dos nordestinos, a tarefa de obter a segunda via é quase impossível, pois implica obter a cópia de um documento que está a alguns milhares de quilômetros de distância.

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