São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Revolução sexual ainda afeta a família

FERNANDO ROSSETTI; RENATO KRAUSZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dados sobre casamento levantados pela Folha mostram que, apesar da Aids, os valores da revolução sexual da década de 60 continuam transformando a família.
A revolução sexual foi o movimento encabeçado pelos hippies, que propunham, entre outras coisas, uma maior liberdade sexual. Foi nessa época que a instituição do casamento entrou em franco declínio e surgiram novas formas de relacionamento entre casais, como as uniões consensuais.
Com o aparecimento da Aids, no início dos anos 80, uma nova ideologia se impôs: a do "sexo responsável", que condenava a promiscuidade e pregava um retorno às relações monogâmicas, ou seja, com um único parceiro.
Sexo responsável
Hoje, a maioria dos que trabalham com jovens continua defendendo o "sexo responsável", mas isso está mais ligado ao uso da camisinha nas relações sexuais do que às formas de relacionamento.
"No contato direto com jovens de qualquer classe social, você percebe que não existe mais aquela idéia de que o casamento e a família são particularmente importantes", afirma Antonio Carlos Egypto, do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual, de São Paulo.
"A evolução do pensamento a partir da revolução sexual não se perdeu", diz Egypto.
"Há uma tolerância maior em relação ao sexo fora do casamento", afirma Rosa Maria Vieira de Freitas, da Fundação Seade (Serviço Estadual de Análise de Dados). "O adolescente hoje admite isso com muito mais naturalidade."
Segundo ela, as pessoas com mais instrução tendem a adiar o casamento para poder estudar mais e ter maior acesso ao mercado de trabalho.
A afirmação encontra correspondência no estudo elaborado por Elza Berquó, com dados do Censo de 1991 do IBGE. Segundo esses dados, 4% dos homens e 24% das mulheres sem instrução de 15 a 19 anos se unem legal ou consensualmente. Entre os de nível universitário, os índices caem para 2% e 4%, respectivamente.
Para a psicóloga Ana Matilde Nagelschmidt, 52, professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da USP (Universidade de São Paulo), o ingresso das mulheres no mercado de trabalho é um dos motivos para a queda no número de casamentos formais.
Segundo a professora, essa e outras renovações da sociedade acabaram transformando os padrões da família nuclear, na qual o casamento era imprescindível.
Ana Matilde aponta o aumento da expectativa de vida como outro fator que age no inconsciente das pessoas. "Um jovem de 16 anos pensar que vai ficar 50 anos com a mesma pessoa pode ser assustador", afirma.
(FERNANDO ROSSETTI e RENATO KRAUSZ)

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