São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estabilidade versus crescimento

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A idéia de que o crescimento mais rápido da economia é contrário à estabilidade dos preços vem circulando no Brasil como se fosse algo lógico e natural. A implicação equivocada de se pensar dessa maneira é que o país deve se contentar com taxas de crescimento medíocres ou então o fantasma da inflação voltará.
Entretanto, esse raciocínio é apenas uma hipótese com pouca comprovação empírica. O estudo da possível interação entre o crescimento e a estabilidade de preços (leia-se, inflação muito baixa ou quase inexistente) é antigo e extenso na literatura econômica. A principal conclusão dos estudos mais recentes é que crescimento e inflação são fenômenos distintos, com causas separadas e de naturezas diferentes.
Algumas vezes, há correlação entre os dois processos quando o crescimento rápido leva a uma grande escassez de mão-de-obra e a pressões pela alta generalizada dos salários. Mas, na maioria das vezes, o problema da inflação não é causado dessa maneira e deve-se a descontrole na área monetária.
A possível correlação entre o crescimento e a estabilidade dos preços foi alvo de um estudo empírico bastante amplo por parte de Robert Barro, professor da Universidade de Harvard e respeitado economista conservador. O professor Barro examinou dados referentes a cem países no período de 1960 a 1990 (estudo Nber nº 5.326) e observou três fatos gerais.
Primeiro, quando a inflação subiu dez pontos percentuais houve uma pequena redução do crescimento de cerca de 0,3% ao ano. Segundo, a inflação parece exercer uma influência negativa sobre o crescimento no longo prazo; 10% a mais de inflação implicou uma diminuição de 5% a 7% do PIB sobre o PIB dos países estudados passados 20 anos. Terceiro, não detectou nenhuma correlação significativa entre maior crescimento e inflação mais elevada.
Assim, o temor da volta da inflação pelo reaquecimento da economia é mais um medo genérico do que algo objetivo. O que limita a possibilidade de o Brasil crescer mais hoje é o déficit das contas externas. Mas a correção desse desequilíbrio passa por transferir de 3% a 4% do PIB para o exterior e acertar o câmbio.
Sem dúvida, o preço a pagar é elevado e, o que é mais grave, vai ficando maior quanto maior for o déficit externo acumulado.

Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.

Texto Anterior: Projeto traz incertezas à autogestão
Próximo Texto: Industriais do Mercosul decidem se unir
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.