São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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América Latina e Ásia constroem novos acessos

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Por muito tempo se falou na construção de estradas capazes de ligar o Brasil às economias do Pacífico Asiático. Os planos existem, mas na reunião da semana passada do Pacific Economic Cooperation Council (PECC), em Santiago do Chile, começou a construção de outros acessos, até mais importantes.
Está em andamento um processo com intensidade sem precedentes de "networking", ou seja, de formação de redes de contatos, de troca de informações e busca de oportunidades no relacionamento entre Ásia e América Latina.
Há quem esteja impressionado com a crise cambial asiática e chegue mesmo a prever a derrocada do modelo regional. Essa é a visão que transpareceu, por exemplo, na reunião do FMI em Hong Kong.
As características especiais das políticas econômicas asiáticas, que até há pouco eram um dos segredos do "milagre", teriam passado à condição de origem dos desacertos, da corrupção e da irracionalidade estrutural que em última análise teria levado à crise cambial.
Alguns líderes asiáticos, já em Hong Kong, subiram o tom das críticas à instabilidade externa como fonte dos problemas. O financista George Soros virou o bode expiatório do momento.
Já na reunião do FMI o Japão defendeu a criação de um fundo regional para estancar a fuga de capitais, provocando reações nervosas entre as potências ocidentais.
Em Buenos Aires, empresários do Mercosul e da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) criaram um conselho de negócios. No encontro, os asiáticos assumiram a tese que atribui a crise cambial na região às manobras especulativas externas.
Esse perfil de resistência aos "fatores externos" transparece também na relação da Tailândia com o FMI. Passado o pior da crise, o governo tailandês adotou uma atitude parecida com a do governo brasileiro nos anos 80: promete o ajuste ortodoxo, mas tenta defender um caminho próprio. Aliás, a demonização da ameaça externa não é nova na história da Ásia.
Nesse contexto a América Latina, que sempre interessou os asiáticos como fonte de matérias-primas, passa a ser vista com outros olhos. Afinal, diversificar exportações e investimentos na região entra na agenda dos asiáticos.
Novos acessos
Segundo Abraham F. Lowenthal, presidente do Pacific Council on International Policy, de Los Angeles, em visita a São Paulo depois do encontro do Pecc, consolidou-se uma divisão entre duas categorias de países na América Latina.
Os países que em 1980 tinham mais de 40% de seu comércio voltado para os EUA aumentaram essa participação nos últimos anos (caso do México). Países cujo comércio exterior com os EUA pesavam menos de 40% reduziram ainda mais essa participação.
Nos casos de redução, como Chile e Brasil, aumentou o peso da América Latina e da Ásia na pauta comercial. Isso exige novas abordagens nos negócios e nas políticas externas. A ponto do seu Pacific Council, criado há pouco mais de dois anos, buscar agora a incorporação de empresários do Brasil.
Lowenthal detecta as novas tendências entre América Latina e Ásia e avisa: a Califórnia, base natural de latinos e asiáticos, abre suas portas para ajudar a construir os novos acessos transpacíficos.

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