São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Havelange tenta fazer sucessor

MARCELO DIEGO
EDITOR-ASSISTENTE DE ESPORTE

Jean-Marie Faustin Godefroid Havelange, 81, deve entregar a Fifa a seu sucessor após 24 anos de poder monolítico.
A grande pergunta política é se esse sucessor será um aliado (Grondona) ou inimigo (Johansson).
Desde 1974, o brasileiro acumula seis mandatos consecutivos, cujo ponto principal foi a política expansionista adotada pela entidade máxima do futebol.
No ano em que o brasileiro assumiu a Fifa (Federação Internacional de Futebol Association), derrotando o britânico Stanley Rous, o número de filiados era de 142. Hoje, são 198 os países-membros (13 a mais que a Organização das Nações Unidas).
Havelange tratou de levar o futebol para os pontos mais distantes do planeta. Isso internacionalizou o esporte e rendeu importantes aliados continentais, decisivos na hora da escolha do presidente.
Mas Havelange começou a perder poder dentro de sua própria entidade -graças, dizem os inimigos, à forma ditatorial de conduzir a Fifa. A prova cabal foi a divisão da Copa de 2002 entre dois países, Japão e Coréia do Sul.
Nunca uma Copa do Mundo, evento máximo da Fifa, foi disputada em duas fronteiras.
Havelange era contra a divisão em si e, principalmente, era favorável a uma Copa no Japão -mercado emergente.
Mas um Mundial no continente asiático já é uma vitória de Havelange. Ele, como dirigente, quebrou a hegemonia da América do Sul e Europa, que até 74 abrigaram todos os Mundiais -com exceção do México em 70.
O brasileiro levou a Copa de volta ao México em 86, aos EUA (país sem tradição nesse esporte) em 94 e a Ásia vai recebê-la.
Sua pretensão é que um país africano abrigue o Mundial de 2006. A idéia seria promover um rodízio continental. Mas Inglaterra e Alemanha já se lançaram candidatas.
Com a Europa levando o campeonato de 98 (França), a Ásia o de 2002 (Japão-Coréia) e, segundo seus cálculos, a África o de 2006, o Brasil seria o candidato em potencial para abrigar a Copa-2010.
O relacionamento de Havelange com o Brasil é de altos e baixos. Alto: colocou seu genro, Ricardo Teixeira, como presidente da CBF. Baixo: contrário ao projeto de lei, brigou com o ministro Edson Arantes do Nascimento (Esportes), o Pelé, e ameaçou excluir a seleção brasileira da Copa-98.
A justificativa foi que a formação de tribunais esportivos independentes e a permissão de os árbitros formarem associações comerciais feririam o estatuto da Fifa.
O conjunto de normas da entidade, contudo, não especifica proibição a esses temas. Pelé os manteve em seu projeto.
Biografia Pelé e Havelange caminharam juntos na conquista do tricampeonato mundial (58, 62 e 70). O primeiro em campo, o segundo como dirigente.
Havelange, nascido em 8 de maio de 1916, no Rio de Janeiro, começou a se destacar nos esportes nos anos 30. Em Berlim-36, integrou a equipe brasileira de natação. Nos jogos de Helsinque (52), fez parte do time de pólo aquático.
Em 1958, assumiu a presidência da Confederação Brasileira de Desportos. Fez disso o seu trampolim para atingir a Fifa, em 1974.

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