São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Grondona adota tática do mistério

Dirigente argentino despista candidatura

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O argentino Julio Grondona prefere deixar para a última hora a decisão sobre sua candidatura à sucessão de João Havelange.
Ex-presidente do Independiente e dirigente da AFA (Associação de Futebol Argentino) há 18 anos, Grondona gosta de se gabar que, em sua gestão, a Argentina conseguiu seus maiores trunfos: uma Copa, um vice-campeonato do mundo e três títulos mundiais sub-20.
Tem fama de bom administrador, mas tem caráter explosivo e cultiva as aparições de surpresa em programas esportivos de televisão e rádio.
Leia abaixo a entrevista que Grondona, candidato lançado pelo próprio Havelange, deu à Folha por telefone.
(RB)
*
Folha - Como o sr. se classifica como dirigente esportivo?
Julio Grondona - Eu não tenho porque me classificar, os outros é que têm de fazer isso. Mas eu estou nessa missão porque sou um apaixonado por futebol. Só essa paixão faz uma pessoa virar dirigente.
Folha - Qual será o objetivo do futebol no próximo século?
Grondona - Não consigo imaginar um limite para o futebol, ele já está no mundo todo e vai continuar a crescer. Devemos só facilitar essa expansão.
Folha - A greve dos jogadores argentinos, que parou o futebol da Argentina por duas semanas neste ano, e a investigação judicial de sua possível responsabilidade no deficiente sistema de antidoping do país prejudicam a sua imagem?
Grondona - Muito pelo contrário, isso mostra que a Justiça existe no país e que não tememos ser investigados. O mundo pode perceber que aqui há leis e justiça. Os jogadores entrarem em greve é sinal que aqui eles têm voz e voto.
Folha - O sr. acredita que a próxima eleição para a presidência da Fifa será, na verdade, um embate entre América e Europa?
Grondona - Não sei, pode até ser. Os europeus levam vantagem porque têm mais países-membros afiliados à Uefa que a América às suas entidades (Conmebol, para os sul-americanos, e Concacaf, para os centro-americanos e norte-americanos). E ainda tem de se levar em conta que a Fifa tem sua sede por lá (Zurique, Suíça).
Folha - Havelange lançou seu nome para sucedê-lo, mas o sr. não assume a candidatura. Por que o sr. não se lança candidato oficialmente?
Grondona - Acho que não é o momento para isso. Eu prefiro esperar, mas, claro, agradeço a indicação de Havelange. Tenho 20 anos como dirigente do país que, depois do Brasil, conseguiu mais títulos no Mundo.
E, na minha idade, tenho muito prazer no que faço. A minha é uma trajetória de porte.
Folha - Qual é a sua opinião da administração de Havelange?
Grondona - Vai ser muito difícil de ser repetida por todas as coisas que conseguiu. Sem dúvida, o sr. Havelange foi o melhor dirigente mundial de todos os tempos.
Eu acredito que ninguém que o substitua será melhor do que ele.
Folha - O que pensa de seu possível rival, Lennart Johansson?
Grondona - É um grande dirigente na Europa. Sabe comandar os membros da Uefa, mas não é tão bom para fazer acordos com os países dos outros continentes.
Folha - Qual é a sua opinião sobre Beckenbauer, que renunciou à corrida eleitoral pela Fifa?
Grondona - Ele é brilhante em todos os sentidos. Sua carreira é muito diferente dos dirigentes tradicionais, mas isso não é um empecilho ou uma vantagem. Ter sido jogador de futebol não é nenhum requisito básico para ser um bom dirigente.
Folha - O que pensa das brigas entre Havelange e seu compatriota Maradona, que atualmente preside o sindicato mundial dos futebolistas?
Grondona - Eles têm idades diferentes, cargos diferentes e pontos de vista diferentes. Mas suas polêmicas até que foram pequenas, afinal, eles são os melhores naquilo que fazem e estão em lados opostos.
Folha - Há alguma estratégia especial para ganhar uma eleição para a presidência da Fifa?
Grondona - Não, só conquistar o maior número de votos. E isso só acontece quando alianças são feitas.

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