São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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A megapolítica e os anões

6 - A figura 6 é constituída por uma garatuja.
Dissemos que os Estados-Nações são atacados pelos mercados financeiros e forçados a se dissolver no seio das metrópoles. Porém o neoliberalismo não move a sua guerra apenas "unindo" nações e regiões. A sua estratégia de destruição/despovoamento e de reconstrução/reorganização produz, além disso, fraturas nos Estados-nações. Este é um dos paradoxos dessa Quarta Guerra: destinada a eliminar as fronteiras e a unir as nações, ela provoca uma multiplicação das fronteiras e uma pulverização das nações.
Se alguém ainda duvida de que essa globalização seja uma guerra mundial, que se lembre dos conflitos acarretados pelo colapso da União Soviética, da Tcheco-Eslováquia e da Iugoslávia, vítimas dessas crises que minam os fundamentos econômicos dos Estados-Nações e sua coesão.
A construção de megalópoles e a fragmentação dos Estados são uma consequência da destruição dos Estados-Nações. Trata-se de acontecimentos separados? São eles sintomas de uma megacrise no futuro? Fatos isolados?
A supressão das fronteiras comerciais, a explosão das telecomunicações, a rede global de informações, a potência dos mercados financeiros, os acordos internacionais de livre-comércio -tudo isso contribui para destruir os Estados-Nações. Paradoxalmente, a mundialização produz um mundo fragmentado, feito de compartimentos estanques, unidos apenas por passarelas econômicas. Um mundo de espelhos quebrados, que refletem a inútil unidade mundial do quebra-cabeça neoliberal.
Mas o neoliberalismo não somente fragmenta o mundo que ele gostaria de unificar, ele produz, também, o centro político-econômico que dirige essa guerra. Urge falar da megapolítica. A megapolítica engloba as políticas nacionais e as reúne num centro, que tem interesses mundiais obviamente econômicos. É em nome do mercado que são decididas as guerras, os créditos, a compra e a venda de mercadorias, os reconhecimentos diplomáticos, os blocos comerciais, os apoios políticos, as leis sobre imigração, as rupturas internacionais, os investimentos. Em resumo, a sobrevivência de nações inteiras.
Os mercados financeiros não se importam com a cor política dos dirigentes dos países: o que conta, a seus olhos, é o respeito ao programa econômico. Os critérios financeiros se impõem a todos. Os mestres do mundo podem tolerar a existência de um governo de esquerda, contanto que este não adote nenhuma medida prejudicial aos interesses do mercado. Eles jamais aceitarão uma política de ruptura com o modelo dominante.
Aos olhos da megapolítica, as políticas nacionais são conduzidas por anões que devem curvar-se ao ditado do gigante financeiro. E sempre será assim... até que os anões se revoltem.

Continua à pág. 5-6

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