São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Pintor flamengo criou entre luz e trevas e fez de homens animais

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do universo bizarro que representou em seus trabalhos, o pintor flamengo Hieronymus Bosch (1450?-1516) é uma das grandes estrelas do Masp.
O tríptico "As Tentações de Santo Antônio", do qual o museu possui a parte central, é uma das obras-primas do artista. O painel traz elementos ligados à alquimia, ao ocultismo, à magia, à astrologia e às crendices populares. Bosch era um moralista. Trabalhou com os mistérios da mente humana, e isso entusiasmou os surrealistas.
Bosch estava mais ligado a uma visão medieval de universo que às idéias humanistas do Renascimento. Ao contrário de contemporâneos como Van Eyck e Van der Weyden, mais preocupados em retratar o clero e a nobreza, preferiu retratar mendigos e monstros.
"A Tentação..." apresenta uma missa oficializada por um padre de feições animalescas auxiliado por um sacristão que traz um funil na cabeça (símbolo do charlatanice que aparece em outras obras do pintor, como "A Extração da Pedra da Loucura").
O irracional e o inexplicável funcionavam como manifestações dos pecados humanos. Deus e o diabo ainda disputavam as terras brumosas da Europa do Norte.
Segundo Bosch, o mal subvertia as leis da natureza, os objetos banais perdiam suas funções no cotidiano e os homens se viam transformados em seres híbridos, com características de animais.
Durante a Idade Média, a "fisionomia" era considerada uma ciência, fundava-se nas relações entre o corpo e a alma e era usada como forma de estudo das características humanas. Os homens podiam, sim, ter feições animais se possuíssem sinais de animalidade. Os traços faciais eram indicações de algo secreto, uma chave para seus segredos mais recônditos.
Galeno considerava Hipócrates o criador da "fisionomia", devido à sua proximidade com a medicina, já que os traços da face eram sintomas de algo interior.
A transformação de homens em animais também era usada por trovadores e literatos da Idade Média para se expressarem com liberdade. Os animais ganhavam voz e falavam o que queriam. Os padres, por exemplo, podiam ser representados como raposas.
(CF)

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