São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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ONG pede boicote a companhia petrolífera

MARIANE COMPARATO
DE PARIS

A organização não-governamental SOS Attentats está pedindo que os franceses boicotem a companhia petrolífera Total, que assinou no dia 28 de setembro contrato com a empresa National Iranian Oil Company para a exploração de gás no Irã.
O contrato, de US$ 2 bilhões, é o maior já assinado entre o Irã e uma empresa estrangeira desde a revolução que implantou uma teocracia islâmica no país, em 1979.
Em artigo de meia página no jornal "Libération", Françoise Rudetzki, a presidente da organização, que dá apoio a vítimas de atentados, explicou o seu pedido.
"Passaram-se 11 anos desde a onda de atentados financiados pelo Irã na França, que matou 13 pessoas e feriu outras 300", escreveu. "O que devem e o que podem fazer as democracias diante dessa guerra lançada por Estados terroristas?", perguntou ela.
Rudetzki citou o assassinato do primeiro-ministro iraniano Chapour Bakhtiar em Paris, em 1994, que acabou matando outras duas pessoas, e teria sido orquestrado pelo Irã. O governo de Teerã teria ainda pressionado a França durante o julgamento dos acusados de matar Bakhtiar. Ela lembra outras três mortes na França (em 1990, 1991 e 1996), também em atentados atribuídos a iranianos.
Vítima ela mesma de uma bomba jogada em um restaurante, em 1983, Rudetzki fundou a organização em 1986. A SOS Attentats tem 1.520 associados. O grupo faz acompanhamento psicológico das vítimas de atentados e informa sobre os procedimentos administrativos e judiciários a serem tomados por elas.
A associação é bastante respeitada na França e recebe o apoio formal do governo do país.
A SOS Attentats foi fundamental na aprovação de uma lei em que o governo francês se compromete a pagar indenização para as vítimas de atentados. Em entrevista à Folha, Rudetzki disse que o Irã não vai deixar de praticar o terrorismo se houver transações comerciais como a da Total. "É inadmissível que iranianos venham ao nosso país assassinar inimigos iranianos, pondo em risco a vida dos franceses. Eles jogaram bombas nas ruas de Paris", disse ela.
Ela afirmou estar "chocada" com o fato de uma empresa do tamanho da Total fazer negócios com o Irã sem o país ter abdicado do decreto religioso que pede a morte do escritor britânico Salman Rushdie: "A França, como país defensor dos direitos humanos, não pode aceitar uma coisa dessas."

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