São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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CRESCIMENTO E POBREZA

Há poucos dias o Censo dos EUA revelou dados que confirmam uma das maiores fases de prosperidade no país. Ainda assim, há quem advirta para os riscos de um otimismo exagerado. A recuperação da economia norte-americana está no seu sexto ano e os benefícios alcançam cada vez mais as minorias étnicas, sexuais e raciais, além de favorecerem a classe média. A diferença de rendimentos entre homens e mulheres, por exemplo, chegou ao mínimo desde que o indicador é medido.
As mesmas pesquisas do Censo, entretanto, revelam que a melhoria nos rendimentos dos 20% mais ricos foram maiores que os de todos os outros grupos. Piorando o quadro distributivo, os 20% mais pobres tiveram uma queda nos rendimentos de 1,8% no ano passado. E os registros da miséria (aqueles cujos rendimentos são inferiores à metade do nível oficial de pobreza) mostram 500 mil pessoas a mais em 1996.
Em suma, a pobreza não cai enquanto os mais ricos estão enriquecendo ainda mais, embora entre as minorias alguns consigam avançar social e economicamente.
Os paradoxos multiplicam-se. Entre os hispânicos, por exemplo, que foram o grupo com maiores ganhos de renda relativos, o índice de pobreza chega ainda a 30%. Ou seja, embora a renda média dessa minoria melhore, no interior do grupo parece reproduzir-se o fenômeno de concentração de renda que as estatísticas identificam na sociedade americana como um todo.
No país das oportunidades, alguns desequilíbrios sociais continuam gritantes. Há dados bons e ruins, exigindo mais reflexão sobre o próprio fenômeno da desigualdade.
Há séculos os economistas se debruçam sobre o paradoxo da pobreza em meio à opulência. O problema reaparece com toda crueza na economia mais próspera do planeta.

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