São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Estado, tamanho e qualidade

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A revista britânica "The Economist" publicou, faz três semanas, um alentado dossiê sobre a economia mundial, cujo eixo era o tamanho do Estado.
Como é natural em uma revista liberal, o espírito da coisa era demonstrar que um Estado grande é nefasto.
Mas a catarata de números utilizados no dossiê permite outras conclusões.
Primeiro, a revista prova que o Estado só fez crescer, neste século, o que não chega a ser uma grande novidade. "The Economist" usou uma amostra de 14 países, os mais ricos do mundo, para demonstrar que o gasto do poder público como porcentagem da economia total pulou, na média desses países, de 9,1%, em 1913, para 47,1% no ano passado.
Mesmo nos anos 90, de galope liberal, a fatia do gasto estatal aumentou um ponto percentual, de 90 a 96.
Tais números permitem uma conclusão oposta à pretendida pela revista: ou seja, a de que uma presença forte do Estado na economia não inibe o desenvolvimento.
Cruzando-se os dados da revista com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano, o metro das Nações Unidas para a qualidade de vida), pode-se concluir igualmente que um governo gastador não é, necessariamente, sinônimo de má qualidade de vida.
No Canadá e na França, líderes em qualidade de vida, o Estado gasta, respectivamente, 44,7% e 54,5% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da riqueza de um país). A França, aliás, é a segunda tanto no IDH (após o Canadá) como na tabela dos Estados mais gastadores, atrás apenas da Suécia.
Não se trata de inferir, daí, que um Estado grande (e, portanto, gastador) é bom. No Brasil, o Estado tem presença econômica mais ou menos equivalente à dos 14 países citados por "The Economist". Nem por isso, o país se sai bem no teste da qualidade de vida.
O ponto, portanto, parece ser menos o tamanho do Estado e mais a qualidade dele.

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