São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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O sertão vai virar mar

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Quem tem conversado com familiares do governador Miguel Arraes garante: ele dá voltas, dá voltas, mas vai acabar se candidatando a deputado federal e apoiando Fernando Henrique Cardoso em 98.
Arraes é um sertanejo forte, de fala enrolada, que acende o primeiro cigarro logo cedo. Em vez de cachaça, gosta de um bom uísque. E não dá ponto sem nó.
Ressalvado o envolvimento do seu governo no escândalo dos precatórios, ele tem uma rica história política. Mas não se comprometeu com praticamente nenhum dos últimos candidatos presidenciais.
Arraes só aderiu a Tancredo Neves na última hora, quase a contragosto. Em 89, lavou as mãos na campanha de Ulysses Guimarães -e não foi para apoiar, por baixo dos panos, Collor, Lula ou Covas.
A única exceção foi em 94, quando ficou com Lula e até patrocinou o comício de encerramento da campanha em Recife. Porém, não foi exatamente um apoio a Lula, mas uma tática de autodefesa. Seu arquiinimigo local, Marco Maciel, do PFL, era vice na chapa de FHC.
O velho Arraes, conclui-se, não rasga dinheiro, não se compromete com candidaturas a troco de nada e jamais se precipita.
A atual aposta de sua família deve-se ao simples motivo de que FHC é o favorito. Se essa tendência se reverter, Arraes não vai se apertar. Está com um pé na campanha de Lula, outro na de Ciro Gomes e não lhe custará dar um passo na direção do PMDB, por exemplo, se a candidatura Itamar vier a aprumar-se.
O velho Arraes pode andar meio combalido, mas ainda é um símbolo político e deve ser um bom objeto de observação no processo de decantação de candidaturas.
Assim como ele, a política está cheia de sujeitos frios e pragmáticos, que primeiro sentem para onde o vento vai. Só então põem o barco a velejar.
O problema vem depois, quando chegam à praia. Os eleitos descobrem que o buraco das negociações com o Congresso é muito mais embaixo. E os eleitores ficam a ver navios.

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