São Paulo, segunda-feira, 6 de outubro de 1997
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Alagamento arrasa parte sul do Pantanal

RUBENS VALENTE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CORUMBÁ (MS)

Mais de 350 famílias de pequenos produtores rurais -estimativa do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Corumbá (MS)- já abandonaram suas propriedades por causa de uma inundação fora de época na parte sul no Pantanal de Mato Grosso do Sul.
Segundo o superintendente da Semades (Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento), Nilson de Barros, 44, o alagamento já atingiu mais de 400 mil hectares, provocando também um desequilíbrio ambiental. A área equivale a 600 mil campos de futebol.
Em viagem de barco na região alagada, a Agência Folha encontrou extensa área de mata inundada e morta em pleno Pantanal, próximo ao rio Negrinho.
O rio Taquari parece ter perdido seu rumo e 60% de suas águas agora se espraiam na planície pantaneira, de acordo com estudos do Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai de 1996.
O rio, que corria para o sul, "virou" para o oeste e passou a desembocar no Paraguai-Mirim, e não no Paraguai.
Animais têm que abandonar seu habitat natural e competir com espécies de áreas secas, causando o que os técnicos chamam de "estresse ecológico".
Segundo o Sindicato Rural de Corumbá, mais de 300 mil cabeças de gado estão deixando de ser criadas anualmente no município.
Com base em dados oficiais do Iagro (Departamento de Inspeção de Defesa Agropecuária), a entidade concluiu que a perda do rebanho de Corumbá -hoje é de 1,5 milhão de cabeças- já atinge 50%. Fazendas inteiras, como a de Berenice Capurro, de 7.000 hectares, ficaram embaixo d'água.
O alagamento vem se agravando desde o final da década de 80.
Segundo governo e sindicatos, o motivo da inundação é o assoreamento do rio Taquari, cuja bacia corresponde a 36% da superfície do Pantanal.
O assoreamento -aumento do nível do leito por causa da entrada de terra- é atribuído aos grandes desmatamentos no Alto Taquari.
"Plante que o João garante"
A abertura das fronteiras agrícolas no governo João Figueiredo foi acompanhada pelo slogan "Plante que o João garante" e não poupou matas ciliares, provocando erosões e desmoronamentos de barrancas do rio. Estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) de 1991 concluiu que 1,8 milhão de hectares foram desmatados nesse período.
Consórcios envolvendo governo, prefeituras e empresários rurais e de turismo já conseguiram mudar o quadro em São Gabriel D'Oeste (Alto Taquari), onde houve reflorestamento há cinco anos. Eles agora se organizam em Coxim e Miranda.

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