São Paulo, segunda-feira, 6 de outubro de 1997
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Pantaneiros viram favelados

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CORUMBÁ (MS)

As famílias de pequenos produtores rurais do Pantanal expulsas pelo alagamento do rio Taquari estão vivendo em favelas de Corumbá (403 km de Campo Grande).
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, vereador Antônio Domingos, 54, disse que vai processar a União pelos danos causados às famílias, alegando que os desmatamentos no Alto Taquari foram incentivados pelo governo federal.
A maioria dos produtores -considerados "legítimos pantaneiros"- habitava havia mais de um século as regiões de Paiaguás e Nhecolândia, na bacia do Taquari.
Até final da década passada, segundo o sindicato, havia 400 famílias nas colônias de Corixão, Miquelina, Negrinho, Rio Negro e Cedro, número que hoje não passaria de 50.
Eunice Castelo Soares, 54, que nasceu e se criou na colônia Cedro, vive hoje da aposentadoria de R$ 120, nos fundos de uma casa em Corumbá com cinco parentes.
Ela era dona de 55 hectares, deixados por seu pai como herança, onde chegou a plantar 500 pés de banana. A área está toda "afundada", como ela diz.
Restaram-lhe a sede e quatro porcos. "Lá nunca tinha alagado. Tinha caititu, queixada, veado. Num dia eu vi cinco cervos".
As famílias que resistem nas áreas não totalmente inundadas plantam basicamente banana e laranja. Leonardo Costa, 47, tinha propriedade de 92 hectares e hoje apenas 18 estão fora d'água.
Segundo ele, 60 reses suas morreram afogadas. Costa é dono do "Rainha da Sucata", barco precário que serve para escoar a produção da colônia.
Ele cobra R$ 5 por passageiro, em uma viagem que dura, em média, 18 horas até Corumbá.
O milheiro da banana produzida nas colônias é vendido por R$ 35 aos atravessadores, um quarto do preço cobrado em Corumbá.

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