São Paulo, segunda-feira, 6 de outubro de 1997
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O engodo do século

FRANCESC PETIT

O relatório do Banco Mundial dizendo que o Brasil, nos próximos 25 anos, entrará no rol dos países ricos parece muito auspicioso, mas é bom não comemorarmos antecipadamente. A verdade da notícia é que os países ricos ficarão mais ricos e mais poderosos nos próximos 25 anos.
Talvez não consigam dominar a economia chinesa e nem a indiana, por serem nações politicamente muito complicadas. Do resto, porém, incluindo o Brasil, se tornarão donos e senhores. Isso inclui todos os setores da economia nacional, como já estamos vendo hoje, quando a indústria está sendo entregue aos grandes grupos multinacionais.
O problema é mais evidente no setor da propaganda, já praticamente liquidado pelo poder do capital e pela influência dos grandes grupos capitalistas. Primeiro, a indústria; depois, a propaganda. Logo virão as seguradoras, os bancos, a indústria da construção, a indústria pesada, os transportes, a energia, a comunicação etc. Tudo será deles, e nossos filhos, netos e bisnetos trabalharão para que o capital dos países ricos fique cada vez maior.
Essa é a verdadeira notícia do Banco Mundial: o Brasil ficará ainda mais pobre do que é hoje, não existirão mais a indústria brasileira, a tecnologia brasileira, os empreendedores brasileiros e muito menos a propaganda brasileira.
No momento em que a profissão estava sendo reconhecida como uma das melhores do mundo -no mesmo nível da propaganda inglesa e norte-americana e superior à de muitos países ricos, como Canadá, França e Itália-, isso não é levado em conta lá pelas matrizes no hemisfério norte.
Isso tudo ocorre pelo fascínio que os empresários do Terceiro Mundo têm pelos países ricos. Assim, entregam tudo a eles: suas empresas, seu futuro, sua dignidade e seu orgulho, acreditando que com esse gesto serão aceitos no seleto grupo dos países ricos.
Enganam-se esses homens que dão de graça seu patrimônio. Eles não chegarão nem na ante-sala da secretária do patrão.
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O alinhamento de contas publicitárias, beneficiando os grandes conglomerados do setor, é, no mínimo, dumping ou protecionismo. E ambos são condenados pelas leis do livre mercado.

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