São Paulo, segunda-feira, 6 de outubro de 1997
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Entre a cruz e o beisebol

ANTONIO CARLOS DE FARIA

Rio de Janeiro - O papa se foi, e daqui alguns dias chega Bill Clinton. O mundo parece que não quer deixar o Brasil relaxado, deitado eternamente em berço esplêndido.
O papa veio e tocou nas desigualdades e injustiças sociais brasileiras. Não se dirigiu apenas a um governo de ocasião, o puxão de orelha foi direcionado à sociedade inteira, que permite que continuem existindo as condições vexaminosas que dão ao Brasil um lugar privilegiado entre os países campeões no desequilíbrio da distribuição da riqueza.
Clinton virá para exigir que os brasileiros se tornem um mercado aberto. Os americanos identificam no Mercosul um perigoso foco de resistência a sua política de conseguir novos mercados. Estão de olho na América Latina, querendo evitar que se repita aqui o fenômeno de perda de competitividade, que já enfrentam na Europa e Ásia.
A velha ordem católica, que ajudou a construir a estrutura de injustiças deste país, se remoçou, fez autocrítica -mesmo que tímida- e já se acha em condições de colocar o dedo no nariz dos brasileiros. Tudo bem. Mesmo os cúmplices podem se arrepender dos pecados e tentar converter antigos aliados.
Já os americanos têm uma missão mais difícil. É embaraçoso para eles fazer o discurso inverossímil de uma integração que não desejam, a não ser como forma de dominação econômica.
O presidente americano é um autêntico "wasp" (branco, angro-saxão e protestante). Representa bem o país que olha para o sul como quem vê um quintal desarrumado, com grama alta e lixo espalhado pelo chão. Território perigoso, propício à proliferação de roedores e parasitas.
Entre o líder que está vindo e o líder que se foi, o Brasil nem vai ter tempo de parar de se olhar no espelho do futuro, que, como diz aquela música, fica incansavelmente refletindo a grandiosidade de um gigante pela própria natureza.

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