São Paulo, quarta-feira, 8 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lindbergh Farias se diz "perseguido"

LUÍS COSTA PINTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O deputado Lindbergh Farias (PSTU-RJ) era ontem uma sombra do jovem presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) que em 1992 liderou as passeatas e comícios de adolescentes de caras pintadas que pediam nas ruas o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
A sombra do jovem da UNE estava atordoada na Câmara dos Deputados. Com uma barriga proeminente, doze fios brancos que aos 27 anos começam a lhe acinzentar a franja, metido num paletó preto um número menor que o seu, suava em bicas na tribuna.
Discursava contra o que chamava de "tortura moral" e "perseguição stalinista" das quais se diz vítima.
"Estão fazendo um fuzilamento moral contra mim. Passei 10 anos no PC do B e sei muito bem o que é isso", disse em um discurso de apenas cinco minutos. Josef Stalin foi secretário-geral do Partido Comunista da ex-União Soviética entre 1924-53. Exerceu o poder de forma ditatorial, humilhando e assassinando opositores. O PC do B prega os métodos de Stalin.
Na semana passada o deputado Lindbergh Farias deixou o PC do B e se filiou ao PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unidos). Por imposição partidária, ficará com apenas 10% do seu salário bruto, ou R$ 830. O resto vai para um fundo do PSTU. O confisco salarial provocou uma bronca da mulher, Maria Antônia, uma estudante de Direito de 22 anos.
Seu nome é uma homenagem à rua Maria Antônia, em São Paulo, palco de uma batalha ocorrida em 68 entre estudantes da Universidade Mackenzie (defensores do regime militar) e da Universidade de São Paulo (USP, contrários). Depois de mudar de partido, Lindbergh foi atacado pelos ex-colegas comunistas e pelo líder do PSB, deputado Alexandre Cardoso (RJ).
Insinuam que ele está desequilibrado em função do excesso de álcool e que mudou de legenda por oportunismo.
"Não acredito nesta baixaria", indignou-se, com os olhos cheios de lágrimas e a voz embargada.
"O PC do B não consegue ter análises maduras sobre a realidade brasileira. Fui para o PSTU porque o Parlamento é uma instância sem importância na sociedade", explica-se.
Chegou à decisão de romper com os comunistas lendo "A Revolução Traída" de Leon Trotsky, adversário de Stalin, e depois da morte do pai há um ano e meio. O pai, médico e vice-presidente da UNE entre 60 e 61, e Ernesto Che Guevara, o médico e guerrilheiro argentino morto há 30 anos na Bolívia, são as biografias que funcionam como faróis de sua via pública.
Lindbergh admite que, "como quase todo jovem que atravessou os anos 80 e 90", já experimentou cocaína e fumou maconha. Hoje as rechaça.
"As drogas são uma doença social, destroem a juventude brasileira. Falo com a experiência de quem já as experimentou, apesar de nunca ter sido viciado", prega ele, cabisbaixo.
"Estão transformando o que seria um debate político numa perseguição moral. Querem destruir minha vida", lamenta.
"Ele nos traiu. Nunca expôs suas divergências com o partido, largou o PC do B de repente. É traidor", diz o líder do PC do B na Câmara, Aldo Arantes (GO).

Texto Anterior: Projeto para criação da CPI da Reeleição está parado
Próximo Texto: Líderes querem definir teto para indenizações na Lei de Imprensa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.