São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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Grupo de policiais 'mata' aula de ikebana

DA REPORTAGEM LOCAL

Engravatados e espremidos em volta de uma mesa de reuniões, 25 alunos da Academia de Polícia de São Paulo fizeram ontem a primeira aula de ikebana (arranjo floral) -curso que faz parte do novo currículo da escola.
A maioria se sentiu mais à vontade do que na aula de tai-chi-chuan, da qual os aspirantes a delegado também participaram pela primeira vez no fim do mês passado.
Mas houve dissidência: um grupo teimou e se recusou a participar do inusitado curso de arranjo floral porque os futuros policiais poderiam ficar estigmatizados como "os delegados da florzinha".
Na aula inédita de tai-chi-chuan no último dia 23, os 81 alunos da academia pareciam desconfortáveis -homens usando terno e gravata e mulheres, saia e salto- enquanto tentavam acompanhar os movimentos arredondados da técnica no gramado em frente ao prédio da escola de policiais.
Eles eram observados por estudantes e funcionários que saíam da Cidade Universitária da USP (Universidade de São Paulo), onde fica a academia.
Alguns pedestres davam risadas e outros ficavam olhando os movimentos sem entender o que estava se passando na escola policial.
Para evitar embaraço semelhante, o aluno Douglas Simões, 30, disse que não participaria ontem da aula de ikebana.
"O delegado tem de preservar a sua imagem. O policial pode ficar estigmatizado como o delegado da florzinha." Assim como ele, outros quatro alunos decidiram não participar da aula.
Eles não se convenceram nem depois que a professora de ikebana Massayo Yamamoto disse que a arte dos arranjos florais foi um privilégio, inicialmente, entre os séculos 14 e 16, dos homens. Ela era praticada pelos samurais após um combate, para reencontrar o equilíbrio emocional.
Os outros 25 alunos "que não acharam que seriam ridicularizados", segundo Tabajara Novazzi Pinto, delegado da academia, elaboraram, das 9h às 10h30, arranjos com lírio, crisântemos e uma flor roxa chamada "blue fantasy".
No arranjo feito pelos policiais, o ramo maior, de lírio, era inclinado para frente e representava o "sujeito", fazendo reverência. As outras flores foram utilizadas para dar harmonia ao arranjo. Os alunos levaram os arranjos para casa.
"O policial tem de ter sensibilidade aguçada", disse o aluno André Luiz Brigitte, 25.

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