São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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Brinquedos influem em relações sociais

RITA NAZARETH
DA REPORTAGEM LOCAL

Já se foi a época em que uma boneca ou um carrinho de rolimã acompanhavam seus donos por um bom tempo. Com a quantidade de brinquedos que surge todo ano, o elo da criança com cada um deles vai ficando menos sólido.
"Isso sem dúvida se refletirá no modo em que a criança vai estabelecer seus relacionamentos no futuro", diz a psicóloga do consumo Vera Marta Junqueira. "O contato humano será cada vez mais fugaz."
A psicóloga, que também é diretora de pesquisas do Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), faz um alerta aos pais para que tenham bom senso, sobretudo em épocas em que o apelo ao consumo for mais forte, como no Dia das Crianças.
"É por meio das brincadeiras que as crianças treinam a vida no mundo real", diz Vera. "No entanto, a criança tem virado mera espectadora de brinquedos que fazem tudo por ela, inibindo cada vez mais sua criatividade."
Afeto versus criatividade
Nas duas últimas posições, ficam os brinquedos que estimulam as relações sociais (7,58%) e as atividades criativas (7,05%).
"Vivemos em uma época de informatização, mas somos pessoas, não personagens virtuais", diz Vera. "Um bicho virtual pode desenvolver a parte afetiva e a responsabilidade, mas leva a criança a conviver com situações complicadas para sua idade."
Segundo a psicóloga, o primeiro desafio é lidar com a morte de algo que não vive. O segundo, que o bicho virtual não substitui o bicho real porque só dá respostas programadas.
Isso significa que, ao se puxar a orelha de um cachorro, ele pode reagir de maneiras diferentes. Já o bicho virtual dará sempre as mesmas respostas, porque segue uma lista de comandos.
A onda de informatização tem levado a uma sofisticação cada vez maior de brinquedos antigos, como a boneca ou o carrinho.
Já os jogos eletrônicos, também chamados de games, podem levar a dois tipos de reações possíveis. "Ou a criança direciona a agressividade ao jogo e fica calma no dia-a-dia, ou ela é estimulada a um comportamento agressivo", diz Vera Junqueira.
Gosto
Segundo as duas psicólogas, é importante respeitar o gosto da criança. "Muitos pais compram a seus filhos o que eles gostariam de ter ganho na infância", diz Vera.
"Videogames para crianças de 6 meses e jogos de cubos para uma de 12 não parecem escolhas adequadas."
Elas também dizem que os pais não devem se sentir frustrados porque não conseguiram dar determinado brinquedo à criança.
"Os pais devem conseguir explicar de forma racional a seus filhos que não compraram determinado brinquedo porque não tinham dinheiro, por exemplo", diz Vera.
"Não se pode ter tudo na vida", afirma Edda. "A decepção da criança pode ser um dos primeiros passos para o começo da maturidade."

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