São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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Livro abre segredos de generais

DO "LE MONDE", EM HAVANA

O livro se chama "Segredos dos Generais", e uma tarja dizendo "revelação liberada" se estende sobre sua capa. O best seller cubano do ano passa a palavra aos chefes da "Grande Muda", a instituição que, segundo analistas, vai desempenhar um papel chave num futuro e inevitável processo de transição.
A primeira edição, de 5.000 exemplares, está quase esgotada, apesar do preço do livro, US$ 15, equivalente a um salário e meio do cubano médio. "Já está sendo preparada uma segunda edição, de 20 mil exemplares", informa o autor, Luiz Baez.
Repórter especial da agência oficial de notícias, "Prensa Latina", Luiz Baez se beneficiou do apoio de Raúl Castro, o "número 2" do regime e ministro das Forças Armadas. O irmão mais jovem de Fidel escreveu o prefácio do livro e releu o manuscrito inteiro "sem tirar uma palavra". Os 41 generais que gravaram seus depoimentos para o livro, "uma provação muito mais difícil para eles do que enfrentar as armas mais assustadoras do inimigo", foram escolhidos pelo Estado-maior cubano.
Dois dos generais mais poderosos, o ministro do Interior, Abelardo Colomé Ibarra, conhecido pelo apelido de "Furry", e o chefe do Estado-Maior, Ulises Rosales del Toro, relatam suas experiências clandestinas na Venezuela e no Cone Sul nos anos 60.
O general Nestor Lopez Cuba confirma que uma unidade blindada cubana foi utilizada na frente síria, enfrentando as tropas israelenses, entre o final de 1973 e fevereiro de 1975. As discordâncias com os soviéticos em relação à orientação das operações na Etiópia ou em Angola não têm mais razão para serem escondidas.
Assuntos proibidos
Dois grandes fantasmas pairam sobre "Segredos dos Generais". Em primeiro lugar o caso do general Ochoa, herói da guerra em Angola, condenado à morte e executado em 1989, acusado de tráfico de drogas. Luiz Baez assume que deixou de lado esse assunto, que abalou seriamente a instituição militar.
"Foi minha culpa. Eu teria podido falar nele. Se escrever um segundo livro, falarei", promete. Outro grande ausente é o marxismo. Essa palavra desapareceu da boca dos generais cubanos, que se declaram, antes de mais nada, "fidelistas", "de uma lealdade absoluta a Fidel e a Raúl".

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