São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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Papon pede para ser julgado em liberdade

MARIANE COMPARATO
DE PARIS

A Justiça francesa decidirá hoje sobre a possibilidade do Maurice Papon, ex-funcionário de Vichy (regime que governou a França durante a dominação nazista), responder em liberdade o processo movido contra ele.
Papon está sendo acusado de crimes contra a humanidade e começou a ser julgado ontem, às 14h (10h de Brasília), em Bordeaux.
Segundo a promotoria, Papon ordenou a prisão de mais de 1.500 judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Os judeus foram entregues a autoridades alemãs, e quase todos morreram no campo de concentração de Auschwitz.
A corte que conduz o julgamento, presidida por Jean-Louis Castagnède, decidirá se Papon deve continuar preso na casa de detenção de Marignan, para onde foi ontem, ou ficar em um hospital. O advogado de defesa, Jean-Marc Varaut, pediu que seu cliente responda ao processo em liberdade, alegando razões de saúde. Papon, segundo Varaut, "sofre de sufocamento pulmonar" e de distúrbios cardíacos.
Papon, que foi secretário do Departamento de Gironde de 1941 a 1944, entrou sem algemas no compartimento com paredes de vidro blindado que lhe foi reservado, por medidas de segurança. "Meu nome é Papon, Maurice. Tenho 87 anos, sou aposentado", disse.
Varaut denunciou as condições precárias em que o ex-funcionário de Vichy está preso. "Ao contrário dos compromissos firmados, nada foi feito para aliviar a detenção do mais velho prisioneiro do mundo", afirmou.
Ataque na prisão
Na prisão, Papon foi xingado e até ameaçado de morte pelos outros presos.
O procurador de Justiça Henri Desclaux refutou o pedido da defesa lembrando que Papon havia violado a decisão da Justiça que o proibiu de deixar a França. Papon prolongou suas férias em Marbella, na Espanha, até o dia 12 de setembro.
"Tenho apenas uma voz para me defender e há 20 vozes do outro lado. Peço a igualdade de armas para que eu possa me defender sem suportar o peso da detenção", disse Papon.
A corte ordenou a designação de dois peritos médicos que deverão dizer se o estado de saúde de Papon permitirá que continue preso na casa de detenção.
Os peritos deverão confirmar até as 13h de hoje (9h de Brasília) se existe, de fato, risco mortal para Papon se ele ficar preso durante dois meses e meio, tempo previsto para durar o julgamento. Nesse caso, ele ficaria em um hospital.
Também ontem, o presidente da corte sorteou o júri, que tem cinco homens e quatro mulheres. Seis deles tem menos de 40 anos.

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