São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997 |
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A MÃO VISÍVEL DO GOVERNO A privatização das telecomunicações entra numa etapa decisiva. O passo fundamental é a criação do novo órgão regulador, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Infelizmente, o governo abre a nova fase com maus sinais, anunciando nomes para a agência que revelam um forte compromisso com a tecnocracia que hoje domina o setor. A regulamentação é a outra face, imprescindível, da privatização de serviços fundamentais para a infra-estrutura do país. O Estado abre mão de produzir e distribuir, mas a transferência de responsabilidades para o setor privado exige uma agência que estabeleça as regras do jogo. Mas tal agência é um órgão público, não um espaço para prepostos do governo. Ao anunciar os nomes que pretende ver ocupando a nova agência, o Planalto ignora a distinção indispensável entre estatal e público. Nos EUA, onde a desregulamentação e a re-regulamentação já tiveram cada qual seu momento, vige um modelo onde é evidente a natureza pública das agências reguladoras. No Brasil, o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Renato Guerreiro, está sendo indicado para a presidência da Anatel. Todos os outros indicados são ou foram ligados ao Ministério ou à Embratel. O regulamento da Anatel e o preenchimento de seus cargos devem ser discutidos com a mais completa transparência. É preciso garantir a presença, entre os que definirão os rumos das telecomunicações, de representantes de consumidores, das empresas, da comunidade científica e do governo, mas não apenas dele. Não basta privatizar. É preciso garantir que a nova ordem seja fruto de decisões legítimas, com o bem público em primeiro plano. É inaceitável outro aparelho de perfil estatal, outra caixa-preta onde as decisões são tomadas segundo as conveniências e caprichos do poder central. O país luta para reformar o Estado e se livrar de casuísmos dos governos de turno. Os primeiros sinais do Planalto na regulamentação das telecomunicações mostram que a mudança mal começou e começou mal. Texto Anterior: SAÚDE SEM REMENDOS Próximo Texto: QUANTO SANGUE RUIM? Índice |
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