São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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QUANTO SANGUE RUIM?

Depois de uma semana de polêmica e de intrigas suscitadas pela questão do sangue, fica a impressão de que ainda não se conhece a dimensão exata do problema. O debate vem sendo marcado pela má interpretação de estatísticas e há indícios fortes de que nem todos os bancos de sangue são fiscalizados. Ainda não se pode estar muito seguro de que, hoje, o sangue para transfusões não esteja contaminado pelos vírus da Aids, da hepatite ou da leucemia.
No mais recente lance da polêmica, o Ministério da Saúde apresentou, tardiamente, dados que dão uma idéia mais precisa do risco atual. Segundo esses números, a taxa de infecção pelo vírus HIV em transfusões parece se aproximar da verificada em países ricos. Parece, pois ainda se ignora o ano em que ocorreu quase metade do total verificado de casos de infecção. Também é preciso levar em conta o problema da subnotificação -isto é, os doentes e infectados que não chegam aos registros.
Até agora, as estatísticas disponíveis listavam os casos notificados de Aids. Isto é, o número de pessoas que se sabe hoje doentes, mas que devem ter sido infectadas há mais de seis anos, em média. E é sempre bom lembrar que foram muitas as contaminações, pois só em 1989, criminosamente quatro anos depois do mundo civilizado, o país adotou a norma do teste de HIV para o sangue doado.
Apesar dos avanços, ressalte-se que estatísticas sempre se referem ao passado; que existem testes precisos de sangue; que é função dos governos fiscalizar sua aplicação, sem o que se destrói, em questão de meses, o trabalho realizado. É intolerável que problemas gerenciais, de continuidade administrativa ou o desperdício possam expor a população a uma forma de infecção letal, contra a qual ela não pode se proteger.

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