São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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Democracia à venda

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O título acima reproduz o de programa especial levado ao ar anteontem pela CNN ("Democracy for Sale").
Era um relato dos problemas que o presidente Bill Clinton e seu vice, Al Gore, vêm enfrentando em consequência de supostas ilegalidades no financiamento de suas campanhas.
Vão desde o uso da Casa Branca como uma espécie de hotel de luxo para arrecadar fundos até o suposto lobby do governo chinês para comprar influência na maquinaria política norte-americana, por meio de contribuições de campanha.
Fosse um problema confinado aos Estados Unidos, tudo bem. Mas já houve escândalos do gênero em inúmeros outros países, da Espanha do ex-premiê socialista Felipe González ao Brasil de Fernando Collor e de FHC, este na forma da compra de votos para a reeleição.
Para não mencionar a suspeita de que a campanha eleitoral do presidente colombiano Ernesto Samper foi em parte lubrificada pelo dinheiro do narcotráfico.
Parece o suficiente para suspeitar que a democracia não está à venda apenas nos Estados Unidos.
As campanhas eleitorais tornaram-se, de fato, muito mais um torneio de arrecadação de fundos do que uma disputa em torno de idéias, programas e propostas, no mundo inteiro.
É por isso que a idéia do financiamento público de campanhas, que me parecia antes apenas uma maneira de escamotear o problema, deveria ser alçada ao topo da agenda. Junto, claro, com punições rigorosas e rápidas para todos aqueles que utilizarem, além dos recursos públicos, doações privadas (que, nesse caso, se tornariam clandestinas).
Difícil fiscalizar? Claro. Mas parece o único caminho para evitar que a democracia, dita o governo do povo, pelo povo e para o povo, se torne o governo do dinheiro, pelo dinheiro e para o dinheiro.
Se é que ainda há tempo.

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