São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Vitrine da visita de Bill Clinton é vista como desperdício nos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Em recente entrevista, a primeira dama dos EUA, Hillary Clinton, disse que precisava pedir à sua filha, Chelsea, que a ensinasse a usar corrreio eletrônico, agora que a menina foi para a universidade na Califórnia, o outro lado do país.
Segundo, Dick Morris, o guru do presidente que caiu em desgraça depois de flagrado num hotel de luxo com uma prostituta que o ouvia conversando com o líder do país na extensão do telefone, Clinton não sabe nem datilografar.
Nada disso impede que uma das prioridades da administração Clinton tenha sido colocar todas as escolas públicas dos EUA em contato com a Internet antes do ano 2000 a um custo de U$ 10 bilhões.
Na viagem ao Brasil, a idéia da tecnologia aliada à educação vai ser a tecla mais batida por Clinton e FHC. A grande vitrine desse tema será no Rio, quando o presidente vai ligar a escola da Vila Olímpica da Mangueira, modernizada com dinheiro da Xerox, à Internet.
Mas, apesar da pomposa retórica de Clinton, que parece acreditar sinceramente que a Internet vai "democratizar e revolucionar a educação", muitos dos melhores especialistas em educação nos EUA acham que o investimento é um desperdício de recursos.
O dinheiro seria melhor empregado, argumentam, na melhoria da qualificação profissional e dos salários de professores e na aquisição de equipamento básico e livros para as crianças trabalharem.
Larry Cuban, da Universidade de Stanford, onde Chelsea Clinton é caloura, por exemplo, acha que o presidente está embasbacado com as novas tecnologias como seus antecessores ficaram com o cinema, o rádio e a televisão, todos considerados em suas épocas como redentores da educação.
Clifford Stoll, outro pedagogo, diz que "o mais importante em qualquer sala de aula é um bom professor que interaja com estudantes motivados. Tudo que possa separar o professor dos alunos tem valor educativo questionável".
O vice-superintendente das escolas de Washington, Maurice Skyes, é ainda mais crítico. O ano letivo de 1997 na capital dos EUA começou com 21 dias de atraso porque os prédios das escolas não ofereciam condições de segurança.
Skyes teve que aceitar a ajuda voluntária de pais de alunos e até dos seguidores do grupo Guardiões da Promessa para consertar buracos em tetos e paredes prestes a cair.
"Quem são os verdadeiros beneficiários dessa corrida tecnológica: as crianças ou a indústria de computadores?" pergunta ele. Essa linha de raciocínio é ainda mais relevante no caso do Brasil, que paga salários dezenas de vezes inferiores a seus professores primários, muitos deles sem curso superior.
Brian Hecht argumenta que 95% do material disponível na Internet não tem valor pedagógico, que dificilmente as crianças saberão separar o joio do trigo e que a relação delas com o computador é muito mais de entretenimento que de aprendizado.

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