São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Brasil terá déficit recorde com EUA em 97

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O déficit comercial (importações maiores que exportações) do Brasil com os EUA alcançará um recorde de US$ 5 bilhões este ano, de acordo com uma nova estimativa da AEB (Associação Brasileira de Comércio Exterior).
Isso representa quase a metade do déficit comercial total do Brasil este ano, que deverá ficar entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões (exportações de US$ 50 bilhões e importações entre US$ 60 bilhões e US$ 62 bilhões), segundo a AEB.
Marcus Vinicius Pratini de Moraes, presidente da AEB, diz que isso mostra que o Brasil chegou ao limite da abertura de seu mercado aos produtos norte-americanos.
Ele espera que o presidente Fernando Henrique Cardoso peça ao presidente Bill Clinton a retirada das barreiras aos produtos brasileiros no mercado dos EUA.
"Se o Brasil abrir mais sua economia, o país quebra", afirma.
Pratini diz que dois fatores explicam o crescente déficit do Brasil no comércio bilateral com os EUA: as restrições à entrada dos principais produtos de exportação do Brasil nos EUA e a lentidão no processo de redução do custo Brasil.
Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do grupo Gerdau, também critica as barreiras enfrentadas pelos produtos brasileiros, não só no mercado norte-americano, como também no mercado europeu.
Ele defende o estabelecimento de um novo conceito, bem mais amplo, nas relações bilaterais.
"Será que um país como o Brasil não deveria ter liberdade de exportar seus produtos para os países que aqui investem seus capitais e sua tecnologia?", indaga.
Gerdau põe em dúvida que as parcerias entre o Brasil e os países ricos sejam realmente "avenidas com duas mãos".
"Será que um país cujas empresas vêm colaborar com o nosso desenvolvimento e têm a liberdade de trabalhar nos nossos mercados financeiro, químico, petroquímico, farmacêutico, de informática, automobilístico, de telefonia, energia e construção de estradas deve estabelecer restrições artificiais para receber nossos produtos, sejam eles frango ou aço?"
O caso clássico das barreiras norte-americanas às exportações brasileiras é o do suco de laranja, que paga US$ 456 por tonelada para entrar nos EUA. Isso equivale a quase 50% de imposto de importação, ou, segundo a AEB, 86% do preço de uma caixa de laranja.
Alca
Pratini diz que essa situação é uma indicação muito clara de que a proposta do presidente Bill Clinton para a aceleração do ritmo de criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) deve ser rebatida pelo governo brasileiro.
"A formação da Alca tem de passar pela abertura do mercado norte-americano para os produtos de exportação nos quais o Brasil é competitivo, tais como suco de laranja, aço e produtos agropecuários, porque não há como alterar a estrutura da exportação brasileira num prazo muito curto e também não há como reduzir o custo Brasil da noite para o dia."
Isso, diz Pratini, precisa ser dito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso ao presidente Bill Clinton "com todas as letras".
Mas, diz Pratini, não basta culpar o protecionismo norte-americano pelo déficit porque o Brasil precisa fazer o "dever de casa".
Entre as medidas sugeridas estão a modernização da estrutura econômica, maior competitividade na exportação, o acerto da questão cambial, a redução do custo Brasil, a reforma tributária e aceleração da privatização dos portos.

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