São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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VEJA O QUE OS EMPRESÁRIOS ESPERAM DA VISITA DE CLINTON

Hermann Wever, presidente da Siemens
"A visita do presidente Bill Clinton ao Brasil não deve ser vista apenas sob a ótica da antecipação ou não da data de início da Alca. Existem temas mais urgentes, tais como o comércio bilateral entre o Brasil e os EUA, para ocupar o centro das discussões presidenciais. Há uma preocupante deterioração da balança comercial contra nós.
Espero que o presidente Fernando Henrique Cardoso aproveite a oportunidade desse encontro para manifestar algumas de nossas posições em relação ao comércio bilateral. As barreiras comerciais contra produtos brasileiros merecem uma revisão urgente por parte dos EUA.
A conversa entre os presidentes sobre a Alca vai ser útil para os dois lados porque vai fortalecer o relacionamento entre os dois países. Acho que a visita não deve ser colocada dentro de um clima de confrontação porque, no fundo, se houver a Alca, não importa quando, o objetivo é beneficiar os dois lados. Acho que é extremamente positivo que o presidente do maior país do mundo sob o ponto de vista econômico nos visite e tome conhecimento mais próximo da nossa situação."

Boris Tabacof, diretor-titular do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)
"A visita do presidente Bill Clinton é extremamente importante. O ponto central das conversações entre o governo brasileiro e o presidente Clinton deve ser a busca de meios práticos para inverter esse déficit comercial recorde do Brasil com os EUA, que, tudo indica, será de US$ 5 bilhões este ano.
O que é que os EUA podem fazer concretamente para diminuir esse déficit?
Acho que é do interesse estratégico e político dos EUA assegurar que o Brasil tenha uma economia forte e eficaz.
Para tanto, os EUA têm de ajudar o Brasil a reencontrar o equilíbrio na balança comercial. Não tenho a menor dúvida de que a visita do presidente norte-americano tem uma importância muito grande para nós.
Não vamos entrar em discussões de natureza retórica ou conceitual, até porque a política dos Estados Unidos é muito pragmática. Vamos colocar pragmaticamente quais são os interesses brasileiros e tentar negociá-los a fundo, tendo em vista o fortalecimento das relações bilaterais."

Alfried Ploger, presidente da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas)
"O encontro dos presidentes Bill Clinton e Fernando Henrique será uma ocasião de relações públicas e de mensagens cordiais. Mas o que o empresariado brasileiro gostaria de dizer ao presidente Clinton é que o país não está preparado para a aceleração no ritmo de criação de uma área de livre comércio nas Américas, a Alca. A globalização pegou os empresários brasileiros no contrapé.
O prazo de 2005 para o início da Alca tem de ser mantido. O Brasil ainda tem de resolver o 'pepino' do custo Brasil e fazer as reformas estruturais, principalmente a tributária, para viabilizar sua participação na Alca. Os empresários gostariam de pedir ao presidente Clinton para retirar as enormes barreiras que impedem a entrada das exportações brasileiras nos EUA. O comércio tem de ser uma avenida de duas mãos.
Os EUA exigem a abertura comercial de todos os países, mas fecham seu mercado. Os EUA estão com pressa em fazer a Alca porque temem o alargamento da União Européia. Eles querem um contrapeso porque sentem a falta de um bloco como a União Européia no continente americano."

David Ivy, conselheiro da Associação das Câmaras de Comércio Americanas na América Latina
"Desde que o encontro entre Bill Clinton e Fernando Henrique Cardoso deixe como saldo uma maior sintonia entre os dois maiores países do continente americano com relação à Alca, a vinda do presidente dos EUA ao Brasil terá valido a pena.
Qualquer tipo de diálogo entre os EUA e o Brasil é extremamente valioso. É uma oportunidade para se colocar os pingos nos is e para discutir a questão central do momento: há, de fato, interesse na Alca ou não? O empresariado americano no Brasil espera como fruto da visita uma aproximação mais sincera entre os dois governos. Qualquer viagem presidencial tem um aspecto de relações públicas, mas a troca de idéias é positiva. Permite que os dois comecem a entender um pouco melhor eventuais problemas que o outro encontra no seu próprio país. Por exemplo, o Brasil continua enfrentando barreiras para a entrada de produtos brasileiros, tais como o aço e o suco de laranja nos EUA. Seria interessante que o próprio Bill Clinton pudesse se inteirar disso de forma mais positiva e mais esclarecida."

Roberto Teixeira da Costa, presidente do capítulo brasileiro do Ceal (Conselho de Empresários da América Latina) "A visita do presidente Bill Clinton ao país terá pouco impacto no avanço das negociações para a criação da Alca.
As posições de ambos os lados -os EUA com pressa e o Brasil sem pressa- estão claras. Seria mais interessante trabalhar com mais afinco na questão do comércio bilateral, amplamente desfavorável ao Brasil.
O presidente Clinton tem de entender que as relações entre os Estados Unidos e o Brasil estão se construindo com base numa nova realidade.
Ele tem de entender que o Brasil passou por problemas sérios e que ainda estamos correndo contra o tempo, fazendo as reformas estruturais.
Isso nos obriga a ter prioridades, pois não podemos fazer tudo ao mesmo tempo. O Brasil é aliado dos EUA. Somos amigos, mas temos divergências. A Alca é uma dessas divergências.
O presidente Clinton tem de entender que o Mercosul é um projeto inacabado.
Não dá para avançar com a Alca antes da conclusão do Mercosul. Mas é uma visita importante."

José Carlos Grubisich, presidente da Rhodia "O empresariado brasileiro poderia aproveitar a visita do presidente Bill Clinton ao país para pedir uma 'colher de chá' para os produtos brasileiros no mercado norte-americano. Isso significa, na prática, pedir a eliminação de todas as armas do arsenal protecionista dos EUA, que são constantemente disparadas contra as exportações brasileiras.
Clinton terá a oportunidade de ver de perto que o país, saindo de onde saiu, fez um grande progresso em termos de liberalização da economia. O que é preocupante para nós empresários é que fizemos essa abertura sem criar mecanismos de defesa que sejam rápidos, eficazes e fáceis de serem colocados em operação.
Com relação à Alca, o presidente Clinton tem de dar um tempo para que o Brasil inverta o déficit comercial, permitindo a entrada dos produtos brasileiros nos EUA. Tem de ter a sabedoria de entender que, do ponto de vista comercial, o Brasil já abriu fortemente o seu mercado. O Brasil precisa agora de mais espaço no mercado norte-americano. O 'tête-à-tête' entre os presidentes é uma grande oportunidade para a remoção dessas barreiras."

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