São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Política de PSDB e PFL é dividir o PMDB

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PSDB e o PFL decidiram "implodir" o PMDB, forçando a divisão definitiva entre governistas e oposicionistas do partido. Eles encamparam a tese que o ministro Sérgio Motta (Comunicações) defende desde a eleição de 1994.
Na avaliação de tucanos e pefelistas, as chances de o PMDB chegar unido à eleição do próximo ano são nulas. Se o partido lançar candidato próprio, metade dos peemedebistas irá apoiar Fernando Henrique Cardoso. Se, ao contrário, votar pela aliança com FHC, a outra metade vai para os palanques das oposições.
Assim, as negociações para a composição do eventual futuro governo não serão com o partido, mas com grupos e pessoas, separadamente.
A tendência é que os peemedebistas governistas sigam o rumo dos paulistas e troquem o PMDB pelo PFL ou pelo PSDB.
Exemplo dos paulistas: o ministro Luiz Carlos Santos (Articulação Política) foi para o PFL e os deputados Alberto Goldman e Aloysio Nunes Ferreira, para o PSDB.
"A aliança PSDB-PFL é sagrada para 98. O resto a gente vai vendo com calma", disse o presidente nacional do PSDB, senador Teotonio Vilela Filho (AL).
Mudança na Constituição
A intenção das cúpulas do PSDB e do PFL é tentar alinhavar um programa mínimo único e propor a redução do quórum para aprovação de projetos no Congresso a partir de 1998, o que facilitaria as articulações do Executivo com o Legislativo.
"Para governar, você precisa duas coisas: ganhar a eleição e ter maioria no Congresso. O ideal é o PFL e o PSDB conquistarem as duas simultaneamente, já em 98", disse o presidente do PFL, deputado José Jorge (PE).
Teotonio vai mais longe. Admite até uma minirreforma constitucional para reduzir o número de deputados e senadores necessário para alterações da própria Constituição, enquanto a reforma política mais ampla não vem.
Qualquer presidente poderia tentar aproveitar o rastro da vitória para aprovar uma emenda assim no início do mandato, livrando-se do que FHC chama de "as amarras dos 3/5".
Diálogo de surdos
O maior problema na área governista, porém, é o PMDB. Tem três ministros (Transportes, Justiça e Secretaria de Políticas Regionais), mas seu presidente nacional, deputado Paes de Andrade (CE), trabalha abertamente por uma candidatura própria.
Apontado como um dos defensores do alijamento do PMDB no eventual segundo mandato, o líder do PFL, deputado Inocêncio Oliveira (PE), avisa que as alianças PSDB-PFL estão indo de vento em popa e que os dois partidos terão como dar sustentação política ao futuro governo, sem o PMDB.
Inocêncio, porém, prefere mudar o eixo da discussão: "Não somos nós que estamos alijando o PMDB. Ele é que está preferindo ir para o suicídio com essa história de candidato próprio", disse.
Inocêncio lembrou que há cerca de três meses o presidente da República ofereceu à cúpula peemedebista tanto participação na campanha quanto no seu futuro governo, caso ganhe a eleição. Até hoje, não teve resposta.
Mais tarde, FHC voltou a tratar do assunto numa conversa a dois com o líder no Senado, Jader Barbalho (PA), e até lhe ofereceu assento no conselho de campanha. Continuou sem resposta, porque Jader precisa do aval partidário -que ainda não veio.
Em 1994, Orestes Quércia disputou a Presidência da República pelo PMDB, mas os candidatos do partido a governos estaduais fecharam o apoio ao tucano FHC antes mesmo do primeiro turno. Garantiram, assim, a participação do partido no governo.
Cooptação
Agora, a estratégia ditada pelo ministro tucano Sérgio Motta e executada pelos ministros peemedebistas tenta repetir o mesmo caminho.
Querem deixar o pau quebrar no Congresso, mas garantindo desde já o apoio dos nove governadores do partido e cooptando os demais virtuais candidatos aos governos estaduais.
Depois da debandada dos peemedebistas governistas, especialmente da bancada paulista, um dos "sobreviventes" do grupo é o deputado Henrique Eduardo Alves (RN).
E ele é cético quanto à estratégia. "O presidente Fernando Henrique vai ajudar o palanque do Jader no Pará? O do Paes no Ceará? E o do Requião no Paraná?", indagou Alves, citando três Estados onde os tucanos terão candidatos próprios.
Os governistas do PMDB trabalham com dois cenários. Se o partido optar por um candidato próprio e perder, os peemedebistas vão ter de negociar com o futuro presidente, seja ele quem for, com base no seu desempenho estadual.
Se optar por apoiar a chapa FHC-Marco Maciel, favorecendo PSDB e PFL, vai tentar exigir depois sua parcela de poder se eles vencerem.
Ainda falta um ano para as eleições, mas a briga pelo poder já está pegando fogo. Entretanto, o ministro Luiz Carlos Santos adverte que o mais importante agora é cada partido e cada candidato cuidarem da sua campanha.
"Não se pode fechar os olhos para o resultado das urnas", disse. Tradução: quem vencer, tem espaço no eventual segundo governo de FHC; quem perder, corre o sério risco de ficar de fora.

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