São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Escola da periferia só pede camiseta

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O projeto "Vista uma Criança, Invista na Educação" poderá começar a beneficiar alunos de colégios incrustados em áreas carentes, como a EEPG Joanna Abrahão, em Americanópolis, na zona sudoeste de São Paulo, onde o uniforme foi reduzido apenas à camiseta da escola.
A lavadeira Cícera Felício de Mello, 33, que mora na rua Artur Capodaglio, onde fica a escola, tem oito filhos. Três deles estudam na Joanna Abrahão -Marcelo Mello dos Santos, 10, e Adriana Mello dos Santos, 13, ambos na 3ª série, e Isael Timóteo dos Santos, 14, na 4ª série.
"Consegui comprar uma camiseta para cada um deles lavando roupa em casa de família. O que o pai ganha mal dá para cuidar da casa", conta.
Devido às dificuldades da comunidade que frequenta a escola, que atende cerca de 2.000 alunos de 1ª a 4ª séries, o colégio pede, mas não obriga, que os pais comprem a camiseta da escola.
Segundo uma professora da segunda série, vizinha de Cícera, que não se identificou, muitos alunos da escola vão de chinelos e até mesmo sem a camiseta da escola, que custa R$ 5.
Cícera diz que, se não fosse a ajuda de vizinhos e amigas, que doaram tênis e calças jeans usadas, seus filhos iriam para a escola de chinelos e shorts.
Ela e o filho Marcelo disseram que gostariam que a escola fosse incluída no início do projeto e recebesse os uniformes.
Vizinha de Cícera, a auxiliar Maria José da Silva, 31, é mãe de Devanildo Silva Brito, 10, que usa o único tênis "de passeio" para ir para a escola.
A camiseta do filho foi doada pela APM (Associação de Pais e Mestres) da escola e a calça também é de segunda mão.
A professora vizinha de Cícera, que defende o uso do uniforme por homogeneizar a turma, teme dificuldades na implantação dos uniformes que venham a ser doados, pois o uso de roupa escolar, hoje em dia, não é obrigatório nas escolas estaduais.
Diferenças sociais
"Na minha classe há diferenças sociais gritantes. Tenho alunos que o pai tem celular, carro e computador e dá de tudo para as crianças e tenho outros que a única refeição é a merenda", diz.
Segundo a professora, o uniforme ajuda a eliminar as diferenças, mas ela acredita que, se o for doado para todos os alunos, alguns não vão querer.
"Tenho alunos que vão adorar esse uniforme, mas tenho outros que vão ganhar e jogar fora."

Texto Anterior: Especialistas são contrários
Próximo Texto: Projeto Meu Guri recebe adesão da metalúrgica Metal Leve
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.