São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Goldie leva ao Palace sua filosofia de rua

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

É hoje a noite moderna do Free Jazz. No palco do Palace sobem jovem artistas que estão ajudando a desenhar os contornos da música nos anos 90. Goldie é o principal deles.
Dentro da cena internacional, Goldie é uma estrela. Carismático, grandioso e grandiloquente, o homem dos dentes de ouro é um personagem da cultura pop desta década.
Roupas extravagantes, muitas correntes, o eterno boxer Tommy Hilfiger aparecendo sob a calça é seu look mais famoso. Além de cultura musical, Goldie injeta estilo e atitude a um universo em que mesmo os grandes nomes assumem um tipo de anonimato.
Dentro desse segmento, produtores e DJs costumam assinar com nomes diferentes, valorizando assinaturas frescas e pouco conhecidas.
Goldie se chama Goldie não porque seus dentes são de ouro -ele escapa o tempo todo das obviedades. Sua mãe é quem o chamava assim; chamava e pronto. Goldie é chamado Goldie até no passaporte e no cartão de crédito, conforme declarou à revista "Mixmag" deste mês, em que aparece -claro- na capa para divulgar seu segundo álbum, o autoral "Saturnz Return" (o retorno de Saturno; instrospectivo momento astrológico que começa aos 29; Goldie tem 31).
Goldie e este Free Jazz inscrevem de vez o gênero drum'n'bass fora dos círculos da música eletrônica e da cultura das pistas, fazendo a coisa chegar também ao Brasil.
Saído das ruas no início da década, o drum'n'bass pode ser visto como uma espécie de evolução mais minimalista do jungle, primeiro rótulo a que se chegou para definir o gênero das batidas aceleradas, de estrutura sincopada e irregular acrescido do canto quase falado do raggamuffin (reggae).
Era a trilha oficial dos negros das ruas de Londres e sua originalidade foi determinante.
Grosso modo, pode-se dizer que o que se conceituava jungle foi se depurando, sobrando a bateria (drums) e o baixo (bass) como estrutura principal -podendo ganhar ruídos e vocais aqui e ali.
A trajetória do próprio Goldie não podia deixar de ser diferente. Saído mesmo das ruas, onde grafitou, jogou hóquei, dançou break, andou por aí com B-Boys do hip hop, pintou camisetas e criou moda -fora a música, claro.
Goldie é pura filosofia de rua, sintetizada à perfeição em "Timeless" (94), seu álbum de estréia, verdadeiro tratado da cultura jovem urbana desta década.
Goldie vai detonar. E ainda traz uma música em homenagem ao brasileiríssimo Chico Science.

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