São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Artista discute o pós-humano

GISELLE BEIGUELMAN
DO UNIVERSO ONLINE

O trabalho de Eduardo Kac reflete uma das grandes discussões do momento. Estamos humanizando as máquinas ou maquinizando os corpos?
Não por acaso foi esse o tema que dominou a conferência de Laurie Anderson na abertura do 8º ISEA (International Symposium of Electronics Arts), realizado em Chicago, em setembro.
Cética, Anderson afirmava que estamos sofrendo uma espécie de intoxicação tecnológica. Mais do que nos liberar das tarefas inúteis, elas, as máquinas, estariam roubando aquilo que nos define como humanos: a comunicação.
Como exemplo, citava os táxis de Nova York que agora são equipados com um gravador onde vozes famosas convidam os passageiros a colocar o cinto de segurança e pegar o seu recibo.
A "utilidade" da introdução desse novo "gadget" é inequívoca: o motorista não precisa mais falar com você.
Perfomances multimídia apresentadas durante o simpósio corroboravam a tese com ironia e bom humor. Nesse caso, valem destaques para o "Gallery Guide", do inglês Kevin Antherton, e para "El Mexterminator", do mexicano Guillermo Gomez-Peña.
No outro extremo da polêmica, situam-se os trabalhos de artistas como Eduardo Kac e do alemão Benoit Maubrey, que faz roupas eletroacústicas desde de 83.
Maubrey levou suas "Audio Ballerinas" para dançar em Chicago. Elas vestiam equipamentos acústicos e promoviam a fusão de corpos humanos e digitais.
Pioneiro das artes eletrônicas, Kac, que faz trabalhos artísticos com telerrobótica desde 89, propõe uma discussão diferente da relação entre homem e máquina.
Quando injeta sangue em robôs, como em "A Positivo", apresentado durante o ISEA, Kac está refletindo sobre o que vem sendo chamado de vida artificial no âmbito das novas biologias.
Um contexto criativo em que a vida deixa de ser pensada como um singularidade da Terra e passa a ser encarada como uma propriedade da matéria, parte do processo de auto-organização do universo.

Texto Anterior: Telepresença supera distância geográfica
Próximo Texto: 'Reis' traz Shakespeare festivo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.