São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PRAGAS, DEMÔNIOS E AMBIENTE

O fenômeno meteorológico batizado de "El Niño" começa a assumir, no mundo todo, o papel antes reservado às pragas bíblicas, responsáveis por todas as desgraças.
Sem negar os efeitos do fenômeno, parece um raciocínio simplista e cômodo atribuir a ele todos os males, do inverno que foi verão forte no Centro-Sul brasileiro às enchentes na Espanha, passando pelas queimadas no Sudeste Asiático. Culpar um fenômeno natural exime as autoridades e a sociedade de refletir sobre os danos à natureza provocados pelo homem, cada vez mais graves.
Típico do comodismo é a reação do governo brasileiro contra relatório do Fundo Mundial para a Natureza que aponta o Brasil como campeão mundial do desmatamento de florestas tropicais nos últimos anos.
Para o porta-voz da Presidência, os dados do governo indicam diminuição do desmatamento. O importante não é tanto se o desmatamento aumentou ou diminuiu, mas o fato de que ocorra sem que fique clara uma política de ocupação da Amazônia.
É preciso levar em conta que, segundo a ONU, o Brasil é o terceiro país do mundo em área preservada de florestas de fronteira, atrás apenas de Rússia e Canadá.
Se se considerar que quase a metade das florestas mundiais já virou pasto ou campo agrícola, fica evidenciada a importância internacional de se preservar o que resta.
Mas o comodismo se estende também aos governos dos países ricos (que, aliás, já promoveram uma devastação quase total de suas florestas). O presidente dos EUA, Bill Clinton, por exemplo, nega-se a aceitar um aumento nos preços da combustíveis fósseis, uma forma de tentar conter a emissão dos gases que geram o efeito estufa, responsável pelo crescente aquecimento da Terra.
Tudo somado, entende-se o motivo da cômoda satanização do "El Niño": ela evita que cada um enfrente suas próprias responsabilidades.

Texto Anterior: CLINTON, SÓ UMA VISITA
Próximo Texto: Volta, Ronivon
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.