São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Volta, Ronivon

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Os três principais títulos da capa da Folha de ontem parecem cravar o último prego no caixão da credibilidade do mundo político.
São: "Câmara livra 3 da compra de votos", "Paulo Afonso escapa de impeachment" e "Partido de Enéas oferece candidatura por R$ 7.000 em SP".
Difícil escolher qual dos três fatos é o que causa mais indignação. Em Santa Catarina, à notícia do arquivamento do impeachment soma-se a foto do governador Paulo Afonso (PMDB) festejando a, digamos, vitória.
É uma indecência. A "vitória" do governador significa o seguinte: os deputados estaduais que o consideram culpado duplicam o número dos que o acham inocente (25 a 12). Só não foi afastado devido ao quórum qualificado (dois terços).
O placar, de todo modo, é uma condenação moral indiscutível. O governador nem se abala. Pior: afirma de público que vai reincidir no crime que confessou, ou seja, usar inconstitucionalmente os recursos dos precatórios.
No caso da compra de votos, vale raciocínio similar. As evidências de que houve quebra do decoro parlamentar foram suficientes para que o relator sugerisse a cassação dos três deputados em julgamento.
O espírito de corpo preferiu poupá-los. O que é pelo menos coerente, na indecência, com o fato de a mesma Comissão de Constituição e Justiça ter absolvido o deputado Chicão Brígido (PMDB-AC) de uma outra acusação, a de ter alugado o mandato.
Por fim, verifica-se que o partido de Enéas, o neo-Catão da política brasileira, com nítida pregação fascistóide, vende vagas na chapa que disputará a eleição de 1998.
Tudo somado, a única coisa sensata a fazer, agora, é a Câmara (e o PFL, que os expulsou) mandar uma carta pedindo desculpas a Ronivon Santiago e João Maia, também do Acre, os únicos punidos no escândalo da compra de votos. As evidências contra eles são as mesmas que não serviram para cassar seus pares.

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