São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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A vez do papa-tudo

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Depois do papa, Bill Clinton vem aí. E vem com tudo, inclusive, ou especialmente, a velha arrogância norte-americana de sempre.
Foram dois os "escalões precursores" da visita: um documento para empresários criticando as instituições brasileiras, falando até em corrupção, e alguns aviões de carga transportando de água a papel higiênico, de computadores a helicópteros. Como se o Brasil fosse uma selva.
Em 1964, o comércio exterior brasileiro andava na casa dos US$ 2 bilhões ao ano. Era a época do "me dá algum aí" e o governo militar recém-instalado humildemente comemorava um empréstimo americano de US$ 100 milhões para seu programa de estabilidade econômica.
Agora, o Brasil continua tendo 47% do território de toda a América do Sul, beira os 160 milhões de habitantes e seu comércio exterior está em torno de US$ 120 bilhões por ano. Apesar da vergonhosa situação social, temos uma moeda estável e uma democracia formal.
Logo, o Brasil que Clinton vai encontrar é muito mais orgulhoso do que aquele que seus antecessores e a opinião pública americana ouviam falar. E os ânimos estão exaltados.
Nem tanto FHC. Mas Celso de Mello (Judiciário) e Antonio Carlos Magalhães (Legislativo) desceram a lenha no atrevido documento americano.
Só falta agora alguém distribuir cópias do best-seller "Cores Primárias", sobre as baixarias de um certo casal durante uma hipotética (?) campanha presidencial dos EUA.
Clinton chega na segunda-feira com a agenda carregada: ONU, educação, acordo judiciário, Alca, Mercosul, narcotráfico. E não adianta fingir que não existem as barreiras norte-americanas aos produtos brasileiros. Seria como faltar carne e leite à mesa e todo mundo falar de abobrinha.
Não se devem esperar resultados bombásticos de uma visita que é sobretudo diplomática. O Brasil, no entanto, vai aproveitar o momento para afirmar a força emergente do Mercosul e a sua própria liderança no continente. Trata-se de um só discurso para dois públicos: o interno e o externo.

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