São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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O quintal

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Como dizia a musiquinha chata daquele banco que foi vendido para os ingleses e mudou de nome, o tempo passa, o tempo voa... e o Brasil continua sendo tratado como um quintal dos Estados Unidos.
Do assessor de imprensa do consulado, que acha que a imprensa deve atender aos interesses da Casa Branca, ao embaixador Levitsky, para quem o Brasil tem de abrir mão do Mercosul, aderir à Alca e achar isso o máximo, mantém-se o figurino do dominador sobre a colônia.
É assim desde há muito, ou pelo menos desde o fim da Segunda Guerra.
Mas o Brasil dá motivo para certas liberdades dos gringos. Lembre-se que já pagamos o "mico" de ver registrada para a posteridade pelo então fotógrafo Ibrahim Sued (era 1946) a deprimente cena do político baiano Otávio Mangabeira, importantíssimo àquela época, beijando a mão do general Dwight Eisenhower. Uma vergonha.
O Brasil sempre teve uma relação de subserviência com a maior potência do planeta; o tresloucado gesto de Mangabeira certamente foi o ápice desse pendor à bajulação.
Portanto não há o que estranhar quando o próprio governo "mui amigo" do norte do continente, às vésperas da visita de Bill Clinton ao Brasil, comete a grosseria de distribuir a empresários norte-americanos texto exaltando algumas de nossas mazelas, como corrupção, baixa qualidade de ensino e ineficiência do Judiciário.
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Se for para valer, é muito importante a lei sancionada pelo governador do Rio garantindo às mulheres vítimas de estupro o direito de receberem, ainda nas delegacias, orientação sobre os hospitais em que poderão realizar o aborto legal caso venham a ficar grávidas.
O problema é que, justamente por causa do tratamento recebido nos distritos policiais, as mulheres evitam prestar queixas desse tipo de crime.

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