São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Ministério 'estatizou' doações nos anos 80

AURELIANO BIANCARELLI; RENATO KRAUSZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Até 1979, 85% dos bancos de sangue do país eram privados. As "doações" eram pagas e poucas instituições faziam testes sorológicos. O comércio de sangue era abusivo.
Em 1980, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional do Sangue, estabelecendo normas para o setor. As "doações" pagas foram proibidas e iniciou-se a criação de hemocentros estaduais.
Segundo Celso Guerra, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, se as doações fossem pagas ainda hoje, o número de contaminações seria alarmante, pois a triagem de doadores seria feita sem rigor.
"Antes de 80, a questão do sangue no país era terrível. Os bancos faziam o que queriam", diz o professor de hematologia da Universidade de Pernambuco Luiz Gonzaga dos Santos, primeiro diretor do Programa Nacional do Sangue.
O programa foi inspirado nos moldes do Hemope (Hemocentro de Pernambuco), fundado três anos antes pelo próprio Santos.
O Hemope foi o segundo hemocentro a ser aberto no país. O primeiro foi no Rio de Janeiro.
Em 85, alguns dos principais bancos de sangue do país começaram a aplicar os testes sorológicos para HIV.
Três anos depois, 46% dos bancos ainda não aplicavam o teste. A informação é de um estudo feito na época pelo atual coordenador do Cosah, órgão que substituiu o Programa Nacional do Sangue, Hélio Moraes.
O estudo de Moraes mostrou também que, naquele ano, 1988, 40% dos bancos de sangue não faziam teste para hepatite B e para doença de Chagas.
Somente em 89 o governo tornou obrigatório para todos os bancos de sangue do país a realização do teste de HIV -em São Paulo, a obrigatoriedade é de 87.
A fiscalização, no entanto, não era muito rigorosa, principalmente nos locais mais distantes dos grandes centros urbanos.
A obrigatoriedade para outros testes veio mais tarde.
Em 93, tornaram-se obrigatórios os testes para hepatite C e anti-HTLV 1 e 2.
Nesses quase 20 anos, a produção de sangue mudou de mãos. Hoje, a produção nos hemocentros públicos é bem superior à dos bancos privados.
(RK e AB)

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