São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Infra-estrutura deve receber US$ 20 bi

FÁTIMA FERNANDES
MAURO ARBEX

FÁTIMA FERNANDES; MAURO ARBEX
DA REPORTAGEM LOCAL

Obras nas áreas de energia e telecomunicações devem concentrar a aplicação de recursos no país em 98

As obras de infra-estrutura, principalmente nas áreas de energia e telecomunicações, e as indústrias siderúrgicas, de papel e celulose e petroquímica devem concentrar os investimentos no país no próximo ano.
Privatizações
Animados com as privatizações, esses setores, considerados essenciais para o crescimento do país, começam a recuperar o atraso nos investimentos, que ficaram parados por quase uma década.
A expectativa da Abdib (Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base) é que aos investimentos em 98 somente em infra-estrutura fiquem próximos a US$ 20 bilhões, 50% acima dos US$ 15 bilhões que devem ser aplicados até o final de 97.
Somando-se os projetos em andamento ou programados para os próximos dois anos, o total de investimentos em infra-estrutura e indústrias de base chega à cifra de US$ 189,9 bilhões, conforme levantamento da Abdib.
Ano eleitoral
Além das privatizações, o que devem puxar os investimentos em infra-estrutura no próximo ano são as eleições para presidência, governos estaduais e a renovação do Congresso Nacional. O ano eleitoral deve apressar obras públicos de saneamento, estradas e portos, além de estimular a construção civil.
"Chegou a vez da infra-estrutura. Após o forte crescimento dos setores de bens duráveis (como eletroeletrônicos e veículos), depois do Real -o que incentivou a indústria de transformação-, há uma mudança clara do perfil de investimentos no país", afirma José Augusto Marques, presidente da Abdib.
Projetos engavetados
Os dados levantados por Roberto Macedo, presidente da Eletros, que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos, confirmam essa impressão.
Há alguns meses, segundo ele, os investimentos deixaram de ser prioridade entre as indústrias eletroeletrônicas, que tiveram grande impulso com o aumento da demanda no início do Plano Real.
"O mercado neste momento está frouxo", diz Macedo. Com a queda de vendas nos últimos meses, grandes fabricantes de eletroeletrônicos estão colocando na prateleira projetos de investimentos.
Mercosul
O diretor de Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Boris Tabacof, acredita que os projetos nas áreas de bens de consumo ficarão paralisados em 98. "Os investimentos nesses setores serão pontuais e devem se concentrar, por exemplo, na área de componentes para telecomunicações."
Para Tabacof, o Mercosul (Mercado Comum do Sul), que reúne Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, também deve estimular novos projetos na indústria.
"Há expectativa de forte expansão no setor automobilístico, em função do aumento de capacidade e da instalação de novas montadoras no país", diz.
As estimativas são que os projetos em andamento, só nessa área, devem gerar investimentos de US$ 9 bilhões a US$ 10 bilhões.
Novo ciclo
O aumento dos investimentos em áreas como infra-estrutura e bens de capital, conforme economistas e empresários ouvidos pela Folha, representa o início de um novo ciclo de desenvolvimento. Mas os números ainda são baixos, se comparados à década de 70 -os chamados "anos do milagre", marcados por um período de forte crescimento econômico.
Dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao Ministério da Fazenda, mostram, por exemplo, que em 97 a taxa de investimentos totais no país em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) está em torno de 17%. Embora maior que a do ano passado (16%), está bem abaixo da taxa média registrada nos anos 70, de 24% do PIB.
Construção civil
Para a assessora da presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Lídia Goldenstein, um dos setores que devem movimentar os investimentos em 98 é o de cinescópios (tubos para televisores), já que a produção atual não vem atendendo à demanda.
"Enquanto a área de bens de consumo deixa de crescer a taxas elevadas, a de bens de capital e o de construção civil deslancham."
Sem euforia
O coordenador de política econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), José Guilherme Almeida dos Reis, está mais pessimista.
"Eu não vejo 98 como um ano de grandes investimentos na indústria de transformação, com exceção das fábricas de automóveis e de peças para telecomunicações."
Para Almeida dos Reis, até as indústrias de bens de capital -como a produção de máquinas, por exemplo- estão apenas começando a reduzir a capacidade ociosa. "Não há demanda suficiente por bens de capital que justifique grandes investimentos neste momento."

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