São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Brilho de Chestnut ofusca Diana Krall

Concepções musicais dos pianistas são opostas

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O pianista norte-americano Cyrus Chestnut, 34, foi a grande atração da série New Directions, anteontem, durante a segunda noite do Free Jazz paulista.
Improvisador exuberante, com uma técnica idem, Chestnut entrou no palco do Bourbon Street decidido a provar por que é considerado um dos melhores pianistas revelados nesta década.
O que mais impressiona no rotundo e simpático jazzista de Baltimore é sua facilidade para transitar por várias escolas pianísticas, sem deixar de soar pessoal.
Já na clássica "Caravan" (de Ellington, Tizol e Mills), Chestnut ofereceu uma verdadeira aula de improvisação, intensidade e dinâmica musical. Cada "chorus" de seu longo solo soava absolutamente diferente do anterior.
Provando também que é fã de João Gilberto, o norte-americano exibiu uma versão quase erudita, lenta e carregada de lirismo, de "Estate" -a canção italiana recriada pelo mestre da bossa nova, no álbum "Amoroso".
Anunciada como a nova "darling" do jazz, a cantora e pianista canadense Diana Krall também agradou à platéia, curiosamente, com uma concepção musical oposta à de Chestnut.
À frente de um trio sem bateria (com destaque para a guitarra de Russell Malone), na linha do histórico Nat King Cole Trio, Diana centrou o concerto no repertório de seu novo CD, "Love Scenes", recém-lançado no Brasil.
O universo musical de Diana gira em torno de "standards", como "They Can't Take That Away From Me" (de Gershwin), "How Deep Is the Ocean" (Berlin) ou "All or Nothing at All" (Lawrence e Altman).
O blues entra em menor dose, mas é justamente num deles, "Lost Mind" (de Percy Mayfield), que ela injeta sua maior dose de sensualidade.
Na verdade, apesar de se virar bem ao piano, depois de alguns números, fica evidente que a cantora supera a pianista.
Tudo na música de Diana é harmônico, polido e comportado. Perto dos improvisos de Cyrus Chestnut, os da canadense chegam a soar simplórios.
Ao abrir o show com uma canção de Peggy Lee, Diana já escancarou suas intenções: mais do que pianista, quer ser a nova diva platinada do jazz.

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