São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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JOGATINA LIBERADA

A uma extensa lista que vai de videopôquer, cassinos e bicho aos permitidos bingos, jogos de azar mascarados em fundos de capitalização, cavalos e sorteios pela televisão, somam-se agora as máquinas de caça-níqueis em bares e lanchonetes. Apesar de proibido legalmente desde 1946, o jogo não tem encontrado dificuldade em se expandir no país.
Os poderes públicos têm legalizado formas de jogo ou pelo menos tolerado a sua prática ilegal. Algumas delas, como os sorteios televisivos, sob pretexto de servir a instituições de caridade, acabam tendo seu faturamento quase todo desviado para fins nada caridosos. Quanto à jogatina ilegal, ressalte-se que a tolerância das autoridades significa muitas vezes corrupção policial, mais evidente no caso do jogo do bicho.
Em que pesem as dificuldades de controlar o jogo, a opção de liberá-lo, como pretende um projeto que tramita no Congresso, apenas ampliará seus efeitos negativos, além de ser uma solução marcada por um conformismo nada recomendável. Diferentemente do que se argumenta, os cassinos não criaram empregos ou trouxeram divisas de turistas em montantes consideráveis, mesmo quando se considera os grandes centros de jogo legalizado.
Ademais, os cassinos têm notórios efeitos nocivos na vida dos indivíduos e na das comunidades que os abrigam. Estatísticas norte-americanas indicam aumento dos índices de violência -lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e roubos- nas cidades com casas de jogo.
Ainda não existem -e, espera-se, não venham a existir- cassinos no país. Mas é sabido que alguns dos problemas a eles associados já são evidentes no Brasil. Considere-se, por exemplo, as relações entre o bicho e o tráfico de drogas.
Levando em conta a degradação provocada pelo jogo, é preciso que se combata a sua expansão irregular e que se restrinjam ao máximo as suas formas legais, dentro de condições muito estritas.

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