São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Interesses da Fokker atrasa laudo do 402

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

O defeito no projeto do Fokker que caiu está ligado ao sistema de relés (componentes que agem como interruptores inteligentes) que acionam o reverso, mecanismo que freia o avião fazendo a turbina dar impulso para trás.
Para a comissão, uma falha foi cristalina: a fábrica assegurar que a chance de o reverso abrir na decolagem era tão pequena que dispensava treinamento específico. O alarme na cabine para essa situação também foi projetado para ser discreto até que o avião atingisse 300 metros de altura. Só que ele abriu quando o avião saía do chão.
O relé suspeito de gerar o defeito original não foi encontrado e as conclusões nessa área vieram por simulações com componentes semelhantes. Elas mostraram que, mesmo sem defeito na peça, o projeto facilitava falhas no sistema.
A partir da hora em que apareceram indícios fortes de que o projeto também era causa do acidente, a investigação ficou lenta.
A fábrica gastou todo tempo que pôde para produzir provas em sua defesa. E a Aeronáutica percebeu a repercussão internacional do caso -só a American Airlines tem cerca de 70 Fokker-100- e se encheu de cuidados para que suas conclusões não sejam questionadas.
No caso das simulações com os relés, a Fokker fez seus próprios testes e questionou os laudos do CTA (Centro Tecnológico Aeroespacial), do interior de São Paulo.
Para oficiais da Aeronáutica, os testes feitos aqui eram "grosseiros". A comissão decidiu fazer um tira-teima nos EUA, que, na essência, confirmou as conclusões iniciais. Mas gastou-se tempo.
Os laudos da Fokker sempre demoraram. Para essas simulações, foram quase três meses de espera.
Segundo um integrante da comissão, a empresa também disse não ser capaz de identificar o relé que comandava o reverso -tão fundamental para a investigação que foi procurado em lixões por um oficial da Aeronáutica.
E, todo o tempo, a companhia tentou mostrar que o acidente não teria acontecido se o sistema de segurança que tira potência da turbina quando o reverso abre (teleflex) tivesse sido eficiente.
O relatório da comissão também aponta falha de treinamento que atinge a TAM. Os dois pilotos se preocuparam em resolver o problema com a turbina direita, em lugar de um deles completar a decolagem com a outra turbina -como recomenda a Fokker.
Houve falta de coordenação na cabine, combatida por um programa chamado CRM (Crew Resources Management), que ensina o que cada um deve fazer em emergências, não oferecido pela TAM.
Por três dezenas de Fokker-100, a TAM também gostaria que a investigação passasse longe do projeto do avião.
Há outros fatores que geraram o acidente (veja o quadro acima).

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