São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Trompetista faz elogio da delicadeza

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REDAÇÃO

Com um terno sóbrio e um olhar ainda mais sóbrio, Art Farmer, 69, começou sua apresentação na segunda noite do Free Jazz com... sobriedade.
Apesar do calor, Farmer continuou com seu paletó cinza até o final do espetáculo. Seus olhos se mantiveram distantes e embaçados. Mas o comedimento da primeira música logo trocou de lugar com a sutileza.
E o show do legendário trompetista no Bourbon Street se configurou então como um elogio à delicadeza.
Delicado, no sofisticado vocabulário do trompete de Art Farmer, não entra nos territórios do frágil ou do lento.
Em "I Mean You", de Thelonious Monk, por exemplo, o músico rasgou os limites do bebop com solos "esperneantes".
Mesmo acionando as três teclas do trompete com velocidade, Farmer se mostrou afável no sopro e criterioso na escolha das notas. Cool, enfim.
Essas características ficaram mais cristalinas ainda em "Blue Monk", que Farmer apresentou tão algodoada como se tocasse ao lado de um berçário. Não haviam crianças em torno do trompetista, mas às suas costas estava a sensibilidade do baixista Paulo Cardoso.
Paulista radicado na Alemanha -o norte-americano Farmer mora na Áustria-, Cardoso faz harmonia com o trompetista há 11 anos. Seu modo de tocar o contrabaixo parece embebido nas mesmas qualidades de Farmer. Além de uma sonoridade limpa e grave, Cardoso escolheu e dividiu notas no espaço musical com sabedoria.
Sapiência também não faltou a Art Farmer, que fechou o espetáculo de 1h15 com "My Funny Valentine". Já esboçando um sorriso embaixo do bigode branco, Farmer se despediu com "boa noite". Todos pareciam concordar.

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