São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Estrangeiros aprendem a lucrar na Rússia

VERONIQUE SOULÉ
DO "LIBÉRATION", EM MOSCOU

No final de 1994, Philippe Emmanuel liquidou seus negócios e deixou a França em busca de um mercado promissor: a Rússia, com seus 148 milhões de habitantes e um nível de vida que só poderia subir. Dois anos e meio mais tarde, o presidente da Maison de France, empresa que representa os grandes fabricantes franceses de móveis, vê um futuro cor-de-rosa.
"Depois de passar uma fase ingrata aprendendo a conhecer o país, minhas perspectivas são boas", diz ele.
Emmanuel afirma que para dar certo na Rússia é preciso possuir várias qualidades - "perseverança, saber não desencorajar diante do primeiro obstáculo"- para enfrentar uma legislação complexa baseada num grande sistema de autorizações, impostos abundantes, riscos de não receber pagamentos devidos, um Estado fraco, em suma, uma cultura diferente em que as relações pessoais assumem grande importância. "Para chegar a compreender tudo isso, é preciso tempo", explica.
A maioria dos empresários reconhece a dificuldade de penetrar no mercado russo. Mas os benefícios compensam. Ele pode parecer pouco atraente, ainda é pouco competitivo, mas está longe de estar saturado.
Apesar da péssima imagem que se costuma fazer da Rússia, os empresários falam de uma tranquilidade espantosa, descrevendo um mundo quase normal e civilizado. Como se os assassinatos encomendados que acontecem regularmente em Moscou e também em outras grandes cidades não passassem de fantasmas na cabeça de jornalistas.
A realidade, ao que tudo indica, está entre esses dois extremos -um sistema inteiramente corrompido pelas máfias e uma economia de mercado, de regras limpas. Quando falam em particular, os chefes de empresas admitem que existem, realmente, setores "sensíveis" de grande importância econômica -essencialmente os setores de matérias primas (gás, petróleo, metais)- nos quais não é aconselhável atravessar o caminho dos grandes grupos russos.
Excetuando esses setores, todos afirmam que basta seguir as regras e não tentar ser esperto demais. É assim que muitos explicam o assassinato do americano Paul Tatum, ocorrido em 3 de novembro de 1996, em Moscou: dizem que ele desobedeceu as regras. Envolvido numa disputa jurídica com seus parceiros russos pelo controle de um grande hotel, Tatum vivia fechado dentro de um quarto de hotel. Quando saiu para um encontro, foi abatido por uma rajada de metralhadora.
"Como podem acusar a Rússia de tal maneira?" pergunta, revoltado, Georges Polinski, presidente da Europa Plus, a primeira rádio privada da Rússia. "Como será que era a França sete anos após a libertação? E os EUA na época da Lei Seca?" Polinski é o herói de uma história de sucesso. Em 1989, em plena perestroika, quando fundou sua rádio, o país praticamente não tinha estações FM. Hoje a Europa Plus emprega 2.000 pessoas.

Tradução de Clara Allain

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