São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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CIDADE DESFIGURADA

Dentre as consequências do inchaço da cidade de São Paulo nas últimas décadas, ao menos duas exercem forte influência negativa na qualidade de vida: os problemas no tráfego, com o aumento da poluição, e a deterioração da paisagem urbana.
Apesar de o trânsito ser um problema mais patente, a desfiguração do espaço urbano e a perda das referências arquitetônicas também contribuem para o mal-estar dos paulistanos. De resto, a expansão da cidade não primou por levar em conta a qualidade de vida -um exemplo disso é a raridade de parques e de outras áreas públicas de lazer.
O emaranhado de leis sobre a ocupação dos espaços urbanos permite que se abram várias exceções no sistema de zoneamento, descaracterizando planos urbanísticos ou prejudicando o perfil residencial de muitos bairros. Soluções emergenciais para o trânsito ajudaram a degradar as regiões próximas a esses novos corredores viários.
Ademais, é bom lembrar que um fator fundamental no aumento da desordem urbana é a impunidade da ocupação ilegal de terrenos ou das construções irregulares em certas áreas da cidade.
Aos poucos, os paulistanos procuraram fugir das zonas deterioradas, como as mais centrais, hoje praticamente inabitadas, o que deixa ocioso um custoso equipamento urbano. A deterioração do coração da cidade contamina paulatinamente as regiões vizinhas, ameaçando criar uma zona morta urbana. São Paulo vai na contramão da história das grandes cidades, que procuram preservar ou revitalizar suas áreas centrais.
Sem políticas públicas consistentes de urbanização, o paulistano se acostuma à perda das referências espaciais e diminui o apreço pela vida na cidade, origens de um círculo vicioso que favorece ainda mais uma relação predatória com a metrópole.

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