São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Quem diria, o Bill nos uniu

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - É notável, mas o presidente dos EUA, Bill Clinton, unificou um país multifacetado como o Brasil.
O visitante conseguiu aqui o que o Pacto de Moncloa fez na Espanha. Pela primeira vez em anos, o país convergiu para um objetivo. Todos se divertem em ter ódio e aversão aos Estados Unidos e sua suposta arrogância.
ACM, dona Neuma da Mangueira, Lula, Supremo Tribunal Federal, Arnaldo Jabor, a revista "Veja". A lista é interminável. Chega quase aos 160 milhões de brasileiros.
Mas vou logo avisando, como se diz por aí: me inclua fora dessa.
A gênese dessa fúria é complexa. Há razões históricas. Os EUA patrocinaram 64. É um motivo. Assim como os paraguaios devem, portanto, odiar para sempre o Brasil -que dizimou o país deles na Guerra do Paraguai.
Há motivos recentes. As viagens baratas, em linguagem turística, "para a Disney". E os sacoleiros que frequentam Nova York. Todos voltam falando que os norte-americanos médios são ignorantes, sem cultura. E, principalmente, que têm uma imagem estereotipada do Brasil.
Sim, tudo isso é verdade.
E daí? Qual classe média do planeta Terra não é ignorante e consegue evitar uma visão estereotipada sobre países remotos do Terceiro Mundo?
Pergunte a um brasileiro médio se ele sabe qual é a capital da Índia. Ou se sabe como é a cultura indiana. É bobagem certa como resposta.
O último capítulo da ignorância dos EUA dá conta de que os repórteres norte-americanos que chegam hoje com Clinton sabem pouco do Brasil.
Sobre isso, como sou do ramo, acrescentarei algo para a indignação pátria. Em 1990, durante a cerimônia de entronização do imperador do Japão, em Tóquio, a cidade estava enfeitada.
Foi quando um repórter brasileiro, enviado a Tóquio, olhando pela janela, exclamou: "Que linda está a cidade. O que são essas bandeiras brancas com uma bola vermelha no meio?".
É isso aí. É um absurdo essa arrogância dos norte-americanos. Nos criticam sem nem nos conhecer direito.

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