São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Aquele mundo de zinco

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Entendo cada vez menos a programação dessas visitas oficiais ou oficiosas de chefes de Estado, de candidatos presidenciais ou mesmo de artistas que se deslocam pelo mundo. FHC comeu buchada de bode durante a campanha eleitoral, e duvido que ele se lembre de onde comeu ou de quem teve a feliz idéia de submetê-lo a tal provação.
Frank Sinatra deu uma bicicleta a um menino favelado, prometeu custear-lhe os estudos, tiraram uma foto juntos -e a biografia dele não melhorou nem ficou mais interessante por causa disso. Anos depois, durante a Rio-92, John Major fez mais ou menos o mesmo.
O papa, em sua primeira visita ao Rio, doou um anel de ouro aos moradores do Vidigal. O príncipe Charles dançou com uma passista de escola de samba -nem por isso melhorou suas relações com a finada Lady Di, nem houve avanço apreciável nas relações entre Brasil e Inglaterra.
O presidente Clinton ameaça uma visita ao morro da Mangueira. Acredito que ele não saiba do que se trata; deve ter ouvido falar do Brasil, do Rio, do samba e das favelas, mas, como bom americano, deve imaginar que tudo não passa de uma Bolívia grande cuja capital é Buenos Aires.
Se os responsáveis pela programação queriam ilustrar o visitante e agradar o visitado, Mangueira foi mal escolhida. Não é mais uma favela do Rio, tem um marketing enorme, está pertinho do céu. Existem favelas mais típicas, com mais tiroteio e menos espaço na mídia.
Servirá apenas para fotos. Em alguns bares do interior dos EUA, há peles-vermelhas razoavelmente autênticos estacionados na entrada. Por US$ 2, deixam-se fotografar com os turistas. No Cairo, por metade disso tira-se uma foto montado num camelo, tendo as pirâmides ao fundo.
Honestamente, acho que não se devia reduzir Mangueira, com sua tradição e beleza, a um pele-vermelha de aluguel ou a um camelo.

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