São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Casal enfrenta vulcões e cães farejadores

MARGI MOSS
GÉRARD MOSS

MARGI MOSS; GÉRARD MOSS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Viajando de monomotor pela América Central, Gérard e Margi Moss passam por florestas, bosques e praias

Quando no aeroporto de Cartagena de Índias, Colômbia, o cão farejador veio procurar cocaína no avião e oficializar nossa despedida da América do Sul, não sabíamos que estávamos na cabeceira de um mundo tão diferente.
Em qualquer mapa, é possível perceber que os países da América Central são pequenos, mas, mesmo assim, ficamos surpreendidos com a rapidez com a qual atravessamos fronteiras.
Voando oito horas para fazer a rota Rio-Recife, cruzamos seis Estados sem encrencas. Pelos céus centro-americanos, um vôo de mais oito horas nos levaria da fronteira do Panamá até o norte da Guatemala, cruzando seis países.
Geograficamente, é um tumulto de vulcões e terras férteis. Há pântanos, florestas tropicais e o que os locais chamam de bosques secos. A oeste, há praias negras no Pacífico. A leste, as praias brancas (e os mosquitos) do Caribe.
Militares
O cenário político é ainda mais confuso, com a atuação militar em países como o Panamá, que, para todos os efeitos, há quase um século é "protegido" pelos governos norte-americano, da Nicarágua e de El Salvador.
Foi nessa colcha de retalhos que penetramos com nosso pequeno avião Romeo. Segundo os avisos nos manuais e cartas aeronáuticas, é imprescindível obter autorização de sobrevôo e pouso antes de entrar no espaço aéreo de qualquer um desses países.
Aí entra em jogo o toque latino. Sempre pedimos as tais autorizações (por fax ou telex), mas raramente recebemos uma resposta.
Ficávamos preocupados até sermos tranquilizados pelos funcionários aeronáuticos do país anterior. "Não se preocupem", diziam. "Não respondem nunca. Se não negam seu vôo, podem ir!"
Além das peculiaridades aeronáuticas de cada país centro-americano, enfrentamos ainda outros problemas "técnicos".
No Panamá, por exemplo, as pistas muitas vezes não chegam aos 450 metros -dizem as más línguas que foram construídas debaixo dos narizes americanos, graças à "generosidade" dos narcotraficantes colombianos.
Mas valeu a pena apostar na coragem do nosso monomotor. Pousando nessas pequenas pistas, conseguimos conhecer pequenas maravilhas desse continente. O arquipélago de San Blás, na costa atlântica, é surpreendente.
Lá vivem os índios kuna, que tentam preservar suas mais antigas tradições -isso sem levar em consideração o fato de os homens da tribo adorarem gravatas e usarem roupas ocidentais.
Já as mulheres não se deixam seduzir por essas modernidades. Ainda hoje ostentam um anel de ouro nas narinas quando querem seduzir seus companheiros.
Como tornozelos e braços finos também são marcas de beleza, amarram apertadas fitas decorativas que só são retiradas quando o pano está bem velho.
Na capital, ficamos perdidos andando de um lado para o outro à procura da cidade colonial. A confusão é causada pelos nomes, que são parecidos.
Panamá Vieja são as ruínas do primeiro vilarejo, saqueado e destruído pelo corsário inglês Henry Morgan, em 1671, e Casco Viejo é o bairro repleto de igrejas e construções antigas que desejávamos visitar. Nem é preciso dizer que fomos parar no primeiro e pegamos um enorme engarrafamento na volta.
Vulcões
Na Costa Rica, a grande atração são os vulcões e parques nacionais, tão bem organizados que, em alguns casos, como Poás e Irazú, localizados perto de San José, é possível subir de carro até o cume. Lá, paramos e demos uma olhadinha nas crateras fumegantes.
Visitar as magníficas florestas tropicais que os ticos (como são conhecidos os costarriquenhos) sabem preservar melhor do que ninguém é um grande privilégio -cerca de 25% do território está protegido por parques nacionais. Acordar às 5h ouvindo os berros dos macacos-congo é uma experiência primeva.
A surpresa é ainda maior quando os conhecemos. Ficamos pensando como bichos tão pequenos podem fazer tanto barulho. Por serem bem feios, têm a sorte de escapar do mercado ilegal de bichos de estimação, que prefere os magricelos macacos-aranha.

Roteiro: o casal Moss fez uma viagem de monomotor pelos pontos extremos da América. Eles passaram recentemente pelas ilhas caribenhas de St. Martin, Anguilla e São Cristóvão e Névis. Chegaram a São Paulo em 9 de outubro

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