São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 1997
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De Morrissey a Radiohead, um apanhado pop

LÚCIO RIBEIRO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Saudade do Free Jazz?
Os bons ventos do pop rock trouxeram nestas últimas semanas grandes lançamentos em CD. Nacional ou importado, single ou álbum, eletrônico ou guitar, americano ou britânico.
A Ilustrada faz um levantamento de alguns dos principais discos que chegaram às lojas convencionais ou de importados nos últimos dias. São 14 exemplos que legitimam a safra 97 dos bons sons do universo rock.

. "Suedehead - The Best of Morrissey", Morrissey
Na rabeira do lançamento do mais novo disco de Morrissey, "Maladjusted", a EMI européia acaba de soltar esta substancial coletânea da obra solo do sujeito que, entre outras coisas na vida, liderou os Smiths, banda seminal inglesa da década de 80.
A cada emissão de laser que seu aparelho jogar sobre esse "Suedehead", sairão pérolas pop de um romantismo impiedoso, capazes de deixar buracos irreversíveis em qualquer alma.
O CD vem com 19 belíssimas canções, desde as preciosas "Suedehead" e "Everyday Is Like Sunday" até a cover de "That's Entertainment", de Paul Weller e seu The Jam. EMI, Importado.

. "Sweet 75", Sweet 75
Enfim o baixista Krist Novoselic dá as caras, depois da trágica morte do amigo Kurt Cobain e consequentemente o fim de sua ex-banda, o Nirvana.
Agora Novoselic toca guitarra para os vocais da venezuelana (?!?) Yva Las Vegas.
Momentos latinos esquisitos à parte, o disco é acima da média, embora na maior parte lembre Throwing Muses, o que não é demérito algum. Lançamento nacional Geffen/Universal.

. "Trainspotting 2", vários
Esta segunda trilha tirada do famoso filme escocês soa a caça-níqueis. Mas quem se importa, uma vez que o CD traz coisas como o tecnopop da antiga do Heaven 17, Primal Scream, Iggy Pop, o saudoso Fun Boy Three cantando "Our Lips Are Sealed", das Go Go's.
Sem contar "Atmosphere", do Joy Division, com certeza a canção mais triste da história da música.
Segundo o diretor do filme, Danny Boyle, são faixas que ele tinha intenção de incluir na trilha, mas que tiveram que ficar de fora da edição final. Ainda: Underworld, Bowie, Sleeper e Goldie. EMI, importado.

. "Karma Police", Radiohead
Single em duas versões da exuberante canção extraída da obra-prima "OK Computer". O CD1 traz as inéditas "Meeting in the Aisle" e "Lull", belas as duas.
O CD2 tem, além de "Karma Police", duas versões de "Climbing up the Walls", que pertence ao álbum, mas que neste single são oferecidas em remix que só servem para comprovar nossa tese de que o vocalista/guitarrista Thom Yorke não é deste planeta. Parlophone, importados.

. "We Will Fall" - The Iggy Pop Tribute
A demência do roqueiro Iggy Pop na pele de uma rapaziada de respeito, como Joey Ramone, Lenny Kaye e as bandas Red Hot Chili Peppers, Monster Magnet, Nada Surf, Superdrag, Lunachicks e Sugar Ray, todos frequentadores dos porões da cena nova-iorquina. Royalty Records, importado.

. "Brighten the Corners", Pavement
Lançamento tardio, mas abençoado do último trabalho da banda californiana liderada por Stephen Malkmus.
Ouvir qualquer disco do Pavement hoje é certamente saber como soará amanhã grande parte das bandas de alternative rock, americanas ou não.
O disco é um primor de vocais fora do tempo e instrumentos propositadamente mal tocados, a marca da banda.
Pavement é básico. Lançamento nacional EMI.

. "Glastonbury Live 97", vários
Uma boa amostra do que rolou em 97 nos festivais britânicos está neste CD, produzido pela Radio One inglesa durante o lamacento festival de Glastonbury.
O disco já começa em grande estilo: valem o dinheiro gasto as versões ao vivo de "Richard III", do Supergrass, e "Paranoid Android", do Radiohead, uma das melhores músicas deste ano fácil, fácil.
E ainda tem mais: Echo & the Bunnymen, Ocean Colour Scene, Kula Shaker. BBC/Virgin, importado.

. "Stand by Me", Oasis
Baladaça mortal içada de "Be Here Now", um dos melhores álbuns do ano.
É o segundo single do último disco dos irmãos Gallagher e traz três inéditas: "(I Got) The Fever", "My Sister Lover" e "Going Nowhere".
"Stand by Me" tem Liam em grande forma cantando "Meu coração nunca será seu lar, mas conte comigo". Creation, importado.

. "Wall to Wall Moustache", Supercharger
Grande debut da banda de breakbeat Supercharger, egressa de Leeds, Inglaterra.
Terrorismo punk/tecno da primeira à última faixa, o CD é obra produzida pela dupla Slapper Dave e Darren Pickles.
Uma pista que toca "Breathe", do Prodigy, seguida de "Jim'll Fix It", deste disco do Supercharger, não esvazia nunca. Lançamento nacional Warner.

. "Jack-Ass", Beck
EP com seis músicas do jeca alternativo Beck, traz três versões balas para "Jack-Ass", uma das melhores músicas do badalado CD "Odelay", do ano passado. Diversão garantida. Geffen, importado.

. "Elektrobank", Chemical Brothers
O futuro, my darling, é aqui. Outro EP com seis músicas, a faixa-título em versão de 8 minutos, é introduzida pelas vozes dos DJs Kool Herc e Grandmaster Caz, capturadas ao vivo em uma apresentação dos Brothers no Irvine Plaza, NY, em 96. Nada sobra depois do "Check this sound". Astralweks, importado.

. "So Much for the Afterglow", Everclear
Sucessor do grande álbum "Sparkle and Fade", a rapaziada do Everclear imprime, direto de Portland (Oregon), mais guitarreira das boas, mais energia nirvânica.
Se em "Sparkle and Fade" o líder Art Lukakis sonhava com a Califórnia, com este "So Much..." ele já vive em seu paraíso.
O Everclear está conseguindo a proeza de tirar do buraco a gravadora Capitol, que já lançou no mercado norte-americano Beatles, Frank Sinatra e Beach Boys. Capitol Records, importado.

. "Smells Like Children", Marilyn Manson
Ele é do mal, ele é satânico, ele é repulsivo. Ele é Marilyn Manson. O Brasil recebe agora este segundo álbum da banda, de 1995, anterior ao já conhecido "Antichrist Superstar", de 1997.
Se "Smells Like Children" traz a mediana versão fantasmagórica de "Sweet Dreams (Are Made of This)", do Eurythmics, para compensar vem com a poderosa "I Put a Spell on You". Lançamento nacional Universal.

. "Lovesongs for Underdogs", Tanya Donelly
Depois de participar de bandas legais como Throwing Muses, Breeders e Belly, a bostoniana (de som, pelo menos) Tanya Donelly se lança no mundo solo da pop music.
Com "Lovesongs for Underdogs", sua estréia na nova empreitada, Donelly perde o caráter rebelde de outrora. Mas sua voz adocicada e seu modo pop de tocar guitarra fazem bem ao mundo. Reprise, importado.

Onde encontrar: Os CDs importados citados nesta página podem ser encontrados/encomendados na London Calling (tel. 011/223-5300), Sweet Jane (tel. 011/288-4847), Bizarre (011/220-7933), com preços a conferir. Já o CD nacional custa em média R$ 20.

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