São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 1997
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Vírus resistente ainda é dúvida

JAIRO BOUER; LUCIA MARTINS
ENVIADOS ESPECIAIS A HAMBURGO

Como tratar os pacientes infectados pelo HIV que já estão resistentes a todos os esquemas que existem hoje para controlar a replicação do vírus?
Essa é uma das dúvidas mais difíceis encontradas hoje pelos médicos. Na era do coquetel, alguns pacientes não estão mais respondendo às potentes combinações com três ou quatro drogas diferentes.
Pacientes com esse perfil já aparecem no consultório de vários infectologistas brasileiros presentes em Hamburgo. Breno Santos, do Hospital Nossa Senhora da Conceição, de Porto Alegre (RS), e Guido Levi, diretor do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo, já estão enfrentando esse dilema.
A esperança hoje está no desenvolvimento de novas drogas, mais potentes que as atuais, e que não apresentem uma resistência cruzada (pacientes que tomam remédio de uma classe e ficam resistentes a vários componentes).
O nelfinavir, por exemplo, é um dos mais potentes inibidores da protease já lançados (deve sair no Brasil em novembro). No entanto, ele tem apresentado eficiência em apenas 30% dos pacientes que já receberam outros remédios, como ritonavir ou o indinavir.
Esses estudos, feitos nos EUA, indicam que talvez a solução seja usar o nelfinavir como primeira opção de tratamento e, depois, mudar para os outros.
Celso Ramos Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse que não se sabe ainda se o vírus resistente é tão agressivo quanto o vírus selvagem (virgem de tratamento).
Segundo Ramos Filho, para sobreviver às drogas, o vírus tem que sofrer tantas mutações que pode acabar enfraquecido, agredindo o sistema de defesa de forma menos intensa. Se essa teoria se confirmar, valeria a pena manter pacientes com coquetel mesmo que a carga viral continue a subir.
Guido Levi diz que a carga viral e a contagem de CD-4 (células de defesa) não são os únicos marcadores da gravidade da doença. Para Levi, trabalhos apresentados em Hamburgo mostram que esses fatores explicam apenas parte da evolução clínica da Aids.
Isso pode explicar por que alguns pacientes com carga viral alta e com contagem de CD-4 baixa não evoluem necessariamente mal. Respostas imunológicas próprias do doente e outros fatores ainda desconhecidos podem estar envolvidos nesse processo.
(JB e LM)

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